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QUASE REALIDADE Maquete de Masdar é apresentada em conferência nos Emirados Árabes

Coragem, muita ousadia, idéias fantásticas, alta tecnologia – e uma ponta de exibicionismo. Esses são alguns fatores para se construir a primeira cidade do planeta cem por cento ecológica. Os árabes têm tudo isso, e muito mais: têm bilhões e bilhões de dólares. Assim, na segunda-feira 21 eles anunciaram ao mundo que serão os pioneiros na montagem dessa cidade totalmente sustentável, incrustada no deserto e erguida no reino do petróleo de Abu Dhabi. Ela vai se chamar Masdar, que em árabe significa fonte, em homenagem à empresa que capitaneia esse arrojado projeto e que pertence à família real da região: a Masdar Abu Dhabi Future Energy Company. Com orçamento inicial de obras na casa dos US$ 5 bilhões e prazo de funcionamento a partir de 2009, esse projeto ambiental prevê uma cidade murada com 50 mil habitantes, envolvendo comércio, lazer, centros tecnológicos e universidades. E tolerância zero na taxa de impacto ambiental e de emissão de poluentes.

Apesar de estar localizada sobre 10% do petróleo do mundo, leia-se solo dos Emirados Árabes Unidos, Masdar não lançará mão desse tesouro. Será abastecida por fontes alternativas, como a energia eólica (captada em fazendas especialmente construídas na periferia) e a energia solar (gerada naquela que será a maior usina fotoelétrica do mundo). Mais: a água necessária e potável será obtida em usinas de dessalinização, enquanto a água não potável, descartada pela cidade, servirá para irrigar as plantações destinadas à produção de biocombustíveis e o suntuoso projeto de paisagismo. Sob temperaturas que batem nos 50º, ninguém em Masdar andará de carro com ar-condicionado, mesmo porque não haverá carros. As ruas, estreitas, serão sombreadas e ventiladas, projetadas para saudáveis e agradáveis caminhadas. Entre um ponto e outro, nenhuma distância ultrapassará os 200 metros, e o transporte público, para quem não quiser andar a pé, será efetuado sobre trilhos.

"Abu Dhabi está embarcando numa viagem para se transformar na capital mundial da revolução da energia renovável", diz Jean-Paul Jeanrenaud, diretor da WWF International, uma das mais conceituadas ONGs ambientais do mundo. O sultão e responsável pela construção da cidade, Ahmed al Jaber, orgulha-se: "Masdar será um laboratório para se testar e se desenvolver alternativas sustentáveis que poderão ser aplicadas em todo o mundo." Para isso, empresas receberão incentivos fiscais para se instalarem, respeitando as regras locais, e será criado um centro tecnológico em parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, dos EUA. Na verdade, os primeiros habitantes da nova cidade serão escolhidos justamente de acordo com os propósitos do sultão – ou seja, se a previsão é de 50 mil habitantes, serão cientistas, técnicos e acadêmicos que pisarão inicialmente esse templo ambiental para experimentá-lo e corrigir eventuais falhas. Depois virá a população geral, leiga em tecnologia sustentável, mas que terá a oportunidade inédita de viver extremamente bem na primeira "cidade limpa" da história da humanidade.