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Se depender da arte, São Paulo vai estar bem protegida a partir da segunda-feira 21, quando abre na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) a aguardada exposição Deuses gregos – coleção do Museu Pergamon de Berlim. No conjunto de 200 peças em mármore, bronze e cerâmica, vindas de um dos maiores acervos de arte clássica do mundo, estará representada a maioria dos deuses e heróis da mitologia grega – Zeus, seus irmãos Hades e Poseidon e mais uma legião de pesos pesados. Pesadíssimos, diga-se de passagem, já que, somada, a valiosa carga totaliza 22 toneladas. Esta é a primeira vez que o Pergamon empresta tantas obras para um só lugar.

“Não se trata de um kit-viagem com aquelas peças que
os grandes museus costumam emprestar. A exposição começou do zero e foi concebida especialmente para o Brasil”, afirma o antropólogo brasileiro Tiago de Oliveira Pinto, que assina a curadoria da mostra com a arqueóloga alemã Dagmar Grassinger.
Entre as estátuas, bustos, cabeças, máscaras, vasos, frisos e objetos de oferenda religiosa, incluem-se, inclusive, algumas peças que ficam em exposição permanente no Pergamon, caso do Torso de Doryphoros, (cópia romana de um original grego do século V a.C.), da estátua do garoto tirando espinho do pé, conhecida como Spinario (cópia do século II d.C. de um original grego do século III a.C.), da chamada Kore lebre (jovem moça com uma lebre no braço esquerdo, datada de 570 a.C.) e do Kouros representando um jovem (do ano 530 a.C).

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A peça mais antiga é também um Kouros, só que em bronze – data do século VI a.C. As mais “recentes” são do período romano, totalizando quase mil anos de história. Para chegar até o Brasil as obras ocuparam 80 caixas que lotaram dois aviões da CargoLux, de Luxemburgo, equipada com aeronaves cuja abertura, pelo bico, permite a passagem até de caminhões. Por segurança, as peças só viajam na vertical e são acondicionadas de forma a não sofrer choques no trajeto. Vindas em dois vôos nonstop, de Luxemburgo a Campinas, as obras foram recepcionadas por uma equipe de sete alemães, entre curadores e restauradores.
Além das preciosidades desfalcadas, a alemã Dagmar destaca a estátua de Atena e a de Poseidon, a última restaurada especialmente para a mostra. O belíssimo mármore é especial porque ficava no teto do altar de Zeus, em Pergamon, na atual Turquia, construído no século II a.C. Descoberto no século XIX, seus frisos foram levados para a Alemanha e reconstituído, peça por peça, no museu berlinense.

A identificação deste Poseidon, deus dos mares, traz uma curiosidade. Como os chamados deuses paternos têm aparência parecida, com a mesma cabeleira e barbas longas e cacheadas, o que os diferenciam são os atributos. No caso de Poseidon, seu reconhecimento vem do tridente, usado na mão direita. Como nas guerras e nos saques, a primeira coisa que se quebra nas estátuas são braços e pernas, esse Poseidon ficou sem o adereço. Os arqueólogos alemães chegaram à conclusão de que se tratava do correspondente de Netuno porque, ao seu lado, nas escavações feitas na Turquia, foi encontrado um tritão, com sua cornucópia e rabo de peixe, criatura comum no seu séquito.

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Uma cópia na mesma escala do altar de Pergamon, onde foi encontrado esse precioso Poseidon, foi montada numa das salas da mostra, e traz as únicas réplicas em gesso do friso lateral da construção retratando a batalha entre deuses e gigantes, como a luta de Zeus e Porfírio. Até chegar a esse grand finale, o visitante passa primeiro pelo Panteão dos Deuses, circundado pelas divindades em pedestais, e depois pela sala dedicada a Dionísio, deus do vinho, cujo culto está na origem do teatro. Aí o destaque, além de máscaras, é o mármore Ator como Paposileno, que reproduz com realismo sua roupa de pele de carneiro. Na ante-sala do Altar de Zeus, vê-se a reprodução de uma típica residência romana, cujo jardim é decorado por estátuas de Narciso, de Sileno e uma bem curiosa, mostrando um sátiro num enlace amoroso com um hermafrodita. Agora é fazer fila para admirá-las. 
 

 

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