Ouça a primeira parte da entrevista completa com o astrofísico Marcelo Gleiser, que acaba de lançar o livro
 

Ouça a segunda parte da entrevista completa com o físico Marcelo Gleiser, que acaba de lançar o livro
 

Ouça a terceira parte da entrevista completa com o físico Marcelo Gleiser, que acaba de lançar o livro
 

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TOLERÂNCIA
Para Gleiser, fé e ciência podem conviver em harmonia

Nem a metafísica, nem a fé cega na ciência. Em seu novo livro, “Criação Imperfeita” (Editora Record), o astrofísico brasileiro Marcelo Gleiser prefere uma terceira via na arena de discussões filosóficas sobre o conhecimento. Diferentemente de figuras polêmicas como o biólogo britânico Richard Dawkins – também conhecido como “rottweiler de Darwin” –, que trava uma guerra nada santa contra os criacionistas, Gleiser quer que a comunidade científica abrace a preservação de nosso planeta como missão fundamental para a perpetuação da busca do saber. Ele falou com exclusividade à ISTOÉ em sua sala na Universidade de Dartmouth, nos EUA, onde leciona.

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ISTOÉ – Em “Criação Imperfeita”, o sr. propõe o abandono de questões como “o que nos espera depois da morte?” em favor da sustentabilidade. Trata-se de uma redução nas pretensões da ciência ou de uma correção de rumos?
Marcelo Gleiser – Certamente, de uma correção de rumos. Precisamos acabar com a fixação a respeito de um suposto “código secreto da natureza” e da missão da ciência em desvendá-lo. Isso é uma ilusão construída ao longo de dois mil anos de pensamento monoteísta. A Terra é suficientemente complexa para nos manter ocupados. Não precisamos desse “eldorado”.

ISTOÉ – O sr. critica a arrogância científica em relação aos religiosos e ao planeta em várias passagens do livro. O sr. é arrogante?
Gleiser – Eu nunca fui arrogante (risos). Sei que isso pode parecer paradoxal, já que no livro eu afirmo que muitos estão pensando de forma errada, mas existe uma diferença entre arrogância, pretensão e honestidade. Só estou tentando ser honesto ao abrir uma discussão.

ISTOÉ – O sr. nivela o fervor da busca científica ao religioso?
Gleiser – Albert Einstein já dizia que o impulso dos cientistas em busca de entender o inexplicável é uma questão de fé. A ciência tem uma atração pelo sacro, por entender qual é a nossa relação com o mundo e quem somos nós. A entrega ao conhecimento, científico ou não, é religiosa.

ISTOÉ – O sr. relata encontros com sua mãe depois que ela morreu. Já teve outros tipos de experiências como essa?
Gleiser – Vivi algumas coisas desconcertantes, que desafiam a visão mais racional do mundo. Quando eu era garoto, uma cozinheira tomou todas as bebidas lá de casa. Um dia, meu pai recebeu a visita do ministro da Justiça de Portugal e descobriu a história. Ela foi demitida e partiu dizendo: “Vai acontecer alguma coisa nesta casa!” Pouco depois, quando eu estava estudando para o vestibular, a cristaleira da sala desabou de repente. Mas acredito que o fato de não conseguirmos explicar alguma coisa não faz com que ela seja sobrenatural.

ISTOÉ – Como o sr. analisa a convivência do conhecimento científico com o misticismo típico do brasileiro? Qual é a cara do País nesse sentido?
Gleiser – O brasileiro é muito espiritual. Basta ver a popularidade da astrologia. Talvez o que falte no Brasil seja a percepção de que a ciência pode ser uma fonte para nossa espiritualidade.

ISTOÉ – Seu apelo em nome da preservação do planeta chega no momento em que até mesmo a cultura pop está impregnada pelo tema, graças ao sucesso de “Avatar”. O sr. assistiu ao filme?
Gleiser – Vi e gostei. Há quem pense que ele transforma a mensagem ambientalista em algo trivial. Só critico o envolvimento de uma força mágica no salvamento do planeta Pandora. Precisamos assumir a responsabilidade e não acreditar que a “Mãe Terra” será capaz de nos salvar quando a barra pesar por aqui. 


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