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Nos arredores de Luxor, cidade a 503 quilômetros do Cairo, a capital do Egito, existe uma vasta região de montanhas e planícies conhecida como o Vale dos Reis. Ali estão enterrados nobres, faraós e membros da família real que viveram há mais de 3 mil anos. A primeira escavação oficial nessa área teve início em 1922 e até hoje 63 complexos mortuários foram descobertos, entre eles o de Ramsés I e o de Tutancamon. Recentemente, pesquisadores do Amarna Royal Tombs Project (ARTP) revelaram a existência da 64ª tumba.

Não é mistério que o vale preserve intactos outros túmulos sob a areia. Afinal, entre 1539 a.C. e 1075 a.C., o Egito teve cerca de uma centena de governantes. Além disso, a partir de 1300 a.C., sob o reinado de Ramsés I, virou costume enterrar também as rainhas em construções separadas à do faraó. É por isso que o anúncio da 64ª câmara esquentou o balcão de apostas. Nos bastidores, sabe-se que os arqueólogos estão à procura de Nefertiti, mulher de Amenófis IV (1.353 a.C. a 1.338 a.C.). A rainha teria governado o Egito após a morte do faraó e desapareceu misteriosamente. No ano passado, a arqueóloga inglesa Joann Fletcher, da Universidade de York, encontrou uma múmia na tumba de número 35 que afirmou ser de Nefertiti. O problema é que não há provas irrefutáveis.

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O que chama a atenção nos últimos achados é a velocidade em que estão sendo revelados. Em média, era preciso três anos para que uma tumba fosse detectada. As recentes descobertas inauguram uma nova fase da arqueologia. Graças a equipamentos de altíssima tecnologia, os especialistas estão avançando mais rápido nas escavações. Os mausoléus de número 63 e 64 foram localizados graças ao magnetômetro com gradiômetro, um aparelho semelhante a um detector de metais que faz um raio X do subsolo. “Ele capta objetos e estruturas de construção reconstruindo-os em um monitor com imagens em três dimensões”, diz Marcos Caldas, professor de história geral da Universidade Federal Fluminense. O novo equipamento é capaz de esquadrinhar uma área de 100 metros quadrados em 12 horas. “Antes, esse era o tempo para escavar um metro quadrado na base do pincel e espátula sem saber se haveria algo enterrado.”

Depois de abrir os sarcófagos, robôs como o Mars Pathfinder, utilizado pela Nasa na exploração de Marte, vasculham cada cômodo da construção. Com a ajuda da física, outros aparelhos melhoraram os métodos de escavação. Pela primeira vez, especialistas do Fraunhofer Institute for Material and Beam Technology estão utilizando o laser na limpeza dos detritos que se acumulam nas paredes do leito de morte do escriba que serviu no templo de Amon, erguido há 3.300 anos. Antes de aplicar o feixe de luz, a arqueóloga Birte Grau mede com um microscópio a altura da placa de detritos sobre os hieróglifos. Então, ela calibra a intensidade do feixe de laser e dispara. “A luz reage com o material das pinturas sem danificá-las”, diz Grau. Sem essa tecnologia, pelo menos 30% das inscrições seriam perdidas e são elas que revelam o dono da tumba.