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O artista venezuelano Jorge Pedro Núñez faria parte do 31º Panorama da Arte Brasileira, em 2009. Com curadoria de Adriano Pedrosa, a mostra acabou retirando a participação do artista, conhecido por suas colagens com anúncios de revistas de arte. Tudo porque a família Oiticica considerou plágio o uso de imagens de Hélio Oiticica nos trabalhos que seriam apresentados. Agora, Núñez tem a oportunidade de mostrar as obras vetadas em exposição individual, na Galeria Luisa Strina, em São Paulo. Ele fala sobre a controvérsia com a família Oiticica e sobre seu método de criação.

Como surgiu a ideia de apropriação dos trabalhos de Oiticica?
É uma apropriação pela via da infiltração, onde uma modificação é realizada, dando outra leitura à imagem. Fiz colagens usando anúncios da revista “Artforum”, em que me propus a reproduzir “pinturas” geométricas como um dicionário de formas e de história, onde, evidentemente, Oiticica ocupa um lugar importante, como Mondrian ou Sol Lewitt. A respeito das fotografias feitas de “Cosmococa”, as imagens foram criadas com a intenção de, à primeira vista, parecerem com a obra original de Oiticica, sendo que, na realidade, trata-se apenas de reproduções modificadas. As imagens foram emprestadas de um livro sobre Oiticica, e isso é evidenciado pela sua moldura e sua característica granulada. O desenho que está sobre a imagem foi realizado a partir de “Instruções para fazer desenhos”, de Sol Lewitt. O título da obra é “Oiticica in Cosmococa After Lecture Lewitt” (foto). Neste tipo de trabalho, o título é muito importante para decifrar as origens da obra, dando sentido ao que vemos. Estas práticas remontam ao bigode de Marcel Duchamp na Monalisa e sua inscrição LHOO Q.

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O que pensa sobre a proibição da família Oiticica?
Para mim é estranho que a família Oiticica leve isto tão a sério. Fiz essas imagens na cozinha de meu apartamento em Paris e nunca pensei que chegariam a São Paulo, muito menos à Fundação Oiticica. Talvez isso tenha a ver com a legitimação da obra de arte pela figura do museu.