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Delcídio Amaral, ex-tucano, neopetista, sabe bem o que é uma missão difícil. Por nove meses, como senador, ele presidiu a CPI mista dos Correios e pilotou a investigação daquele que é um dos maiores escândalos da história recente brasileira. Bateu cabeça com seu partido, o PT, mas conseguiu empurrar goela abaixo dos petistas a constatação de que o mensalão existiu. Agora, a batalha de Delcídio é outra. Candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, ele larga em desvantagem. Nas pesquisas de intenção de voto, está 30 pontos atrás do líder, o ex-prefeito de Campo Grande André Puccinelli, do PMDB. Mesmo assim, está confiante e aposta alto no início do programa eleitoral na tevê. Ele quer botar os pés na rua, partir para o corpo a corpo com o eleitor. “Na rua eu sou bom, sou um craque”, dispara, sem sombra de modéstia. Os tempos de CPI, com exposição permanente na mídia, fizeram de Delcídio uma celebridade nacional, mas a notoriedade não chegou aos rincões de Mato Grosso do Sul. Ele atribui o atraso nas pesquisas principalmente ao fato de ter entrado só agora na campanha. “Eu fiquei praticamente um ano envolvido com a liderança do PT e com a CPI”, diz.

A dianteira de Puccinelli o coloca como um alvo duro de ser perseguido. O peemedebista comandou a prefeitura da capital por dois mandatos seguidos. Saiu com altos índices de aprovação e conseguiu com facilidade fazer o sucessor. Agora, Puccinelli carrega o currículo de prefeito debaixo do braço como forma de garantir o posto privilegiado na corrida pelo governo. Com fama de político que constrói, ele pavimenta no eleitorado do interior o desejo de ver todo o Estado transformado no canteiro de obras que foi Campo Grande. Afastado do Senado desde maio para ingressar na campanha, Delcídio vai bater na tecla de que Puccinelli conseguiu ser um bom prefeito porque a maior parte da verba federal destinada a Mato Grosso do Sul ficava em Campo Grande. Mesmo assim, Delcídio terá de concentrar suas baterias na capital: Mato Grosso do Sul tem 78 municípios, mas em Campo Grande e no seu entorno vive nada menos que um terço do eleitorado do Estado. E é justamente ali que reina Puccinelli.

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Não bastasse a diferença de votos, Delcídio, engenheiro eletricista por formação, ainda tem um curto-circuito doméstico para resolver. O candidato não conseguiu fazer com que o PT local entre de corpo e alma na campanha. O governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, principal liderança do partido no Estado, só agora aparece ao lado de Delcídio na campanha. Tudo fruto ainda de uma disputa que chegou a fazer Delcídio, em plena investigação na CPI dos Correios, cogitar trocar o PT pelo oposicionista PSDB. Zeca foi o responsável pelo batismo de Delcídio nas urnas e por levá-lo a conquistar uma cadeira no Senado já na primeira eleição que disputou. Depois, criador e criatura entraram em rota de colisão. Numa briga, aliás, que teve como padrinho o ex-tesoureiro nacional petista, Delúbio Soares. Em visita a Campo Grande, com Delcídio já lançado candidato, Delúbio declarou apoio do PT a Puccinelli, num movimento orquestrado por Zeca. Dentro do partido, há quem garanta até que o governador firmou um acordo com Puccinelli em 2002, de olho nas eleições deste ano. Ele era candidato à reeleição e o peemedebista quis entrar na disputa. Pelo acerto, Puccinelli abria mão de candidatar-se naquele momento, e Zeca, em troca, facilitaria a vida dele nas eleições deste ano. Agora, o governador estaria pagando a fatura.

Delcídio é um neopetista e já tem o que reclamar do partido. Ele atribui os índices ainda baixos de intenção de voto ao estigma do PT pós-mensalão. “Hoje, há uma rejeição de certas camadas da sociedade ao PT e é claro que isso impacta na minha candidatura”, afirma. Não é o único reflexo do escândalo. Para o candidato petista, a dificuldade para angariar doações é outro problema que o escândalo potencializou. “Em função do mensalão, as pessoas não querem se envolver tanto”, pontifica. Delcídio aposta num programa de governo ousado. “Precisamos sair do binômio soja-boi”, prega o filho de fazendeiro, nascido na cidade pantaneira de Corumbá. “É preciso sair do provincianismo para caminhar na direção de um Estado moderno avançado”, repete.