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O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) abriu na semana passada duas frentes de batalha no meio da guerra de acusações sobre corrupção que assola Brasília. Na terça-feira 8, acusou nominalmente o Partido Socialista Brasileiro (PSB) de ter usado o Ministério da Ciência e Tecnologia para se beneficiar dos milionários recursos do programa federal de inclusão digital por meio da compra fraudulenta de ônibus. “Tento mostrar como um partido se apossou de um ministério, transformando-o num ministério de compadres”, disse ele. “O programa do horário eleitoral do PSB foi gravado dentro de um desses ônibus. Tenho elementos para suspeitar que o PSB usou a Secretaria de Inclusão Digital como trampolim para aprovar as emendas dos deputados do partido.” O petardo voltou-se contra ele com fúria. “O Gabeira é um mau-caráter”, respondeu o ex-ministro e atual vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, que também contemplou o deputado fluminense com uma série de xingamentos. “A honra das pessoas não pode ser mercadoria para obter votos.” Num corredor da Câmara dos Deputados, Amaral encontrou-se com Gabeira e avisou que irá processá-lo. O ex-ministro está juntando documentos para oferecer queixa-crime ao Supremo Tribunal Federal e, ainda, iria pedir indenização por danos à imagem do partido. Isso assustou o deputado verde de 65 anos e um passado que inclui a guerrilha e o desbunde? Qual nada. “Pode processar. É perda de tempo”, reagiu Gabeira, impassível.

No mesmo dia, durante uma sessão administrativa da CPI dos Sanguessugas, ele contra-atacou, virando sua metralha para o PMDB. “Parte dele é uma quadrilha, e isso vai ser revelado com o tempo.” Nesta seara, ele centrou fogo em dois alvos poderosos, e acabou por abater um deles. Gabeira insinuou que o sub-relator Wellington Salgado, senador por Minas Gerais, atuava em conjunto com o presidente do Senado, Renan Calheiros, para levar a CPI a resultados pífios. Prosseguiu afirmando que Salgado teria presenteado Renan com uma tevê de plasma e, em troca, ganhara um terreno no valor de R$ 6 milhões. O senador bateu boca com o deputado, negou a acusação, mas, exausto, preferiu renunciar ao cargo de sub-relator. Renan, até a quinta-feira 10, optava por não se meter no fogo cruzado.

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Enquanto Salgado se dá por abatido, Amaral e seus correligionários socialistas, como o ex-secretário de Ciência e Tecnologia Rodrigo Rollemberg, não aceitam o rótulo imposto por Gabeira. Amaral entregou à CPI dos Sanguessugas uma carta em que explica ter sido ministro de janeiro de 2003 a janeiro de 2004, enquanto o Programa de Inclusão Digital só começou em março de 2004. Em seguida à entrega do documento, encontrou-se com Gabeira, um dos sub-relatores da CPI. “Você não sabe que deixei de ser ministro em janeiro de 2004?”, perguntou. “Sempre soube”, respondeu Gabeira. “Então por que você disse que vai me convocar?” Sem mover um músculo da face, o deputado verde encontrou uma saída rápida. “Eu nunca disse isso. Pergunte para eles”, retrucou, apontando os jornalistas que se aglomeravam à volta do bate-boca. De concreto, Gabeira conseguiu, além de sofrer o pedido de cassação na Comissão de Ética, levantar a bola para um assunto que parecia lateral, mas que agora pode representar um novo centro de investigações. Afinal, dos 30 deputados do PSB, 16 fizeram emendas orçamentárias ao Programa de Inclusão Digital em 2005 e 2006. O programa prevê a compra de ônibus equipados com computadores para proporcionar aprendizado a pessoas de baixa renda.

Em seu blog, o deputado dá repercussão aos seus gestos em Brasília numa linguagem quase poética. “Os dias e as noites estão sendo terríveis neste pedaço do inverno brasileiro. No subterrâneo do Congresso, trancados num imenso cofre, examinamos todos os detalhes desse escândalo das ambulâncias superfaturadas.” Com isso, na mesma medida em que atrai a ira dos adversários denunciados, desperta a admiração dos velhos amigos, seus amigos de luta ambiental e, também, de guerrilha urbana. “Gabeira está atento à maior de todas as poluições, que é a poluição da corrupção”, sentencia o deputado federal Carlos Minc (PT-RJ). Seu correligionário Alfredo Sirkis (PV-RJ) faz coro. “Ele botou o dedo na ferida institucional do País”, diz Sirkis.