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Está fora de moda, mas ele gostaria de espetar uma estrela no peito. Seu comportamento é o de um típico xerife. Já foi acusado de preparar uma armadilha para matar 12 bandidos dentro de um ônibus, enerva-se com os ativistas pelos direitos humanos e advoga a prisão perpétua. Na semana passada, Saulo de Castro Abreu Filho, o polêmico secretário estadual de Segurança Pública que há seis anos comanda a polícia do maior Estado do País, mostrou outra vez a sua face. Surpreendido pela terceira onda de terror e fúria do PCC, em que mais de 70 ataques foram feitos contra lojas, postos de gasolina, agências bancárias, instalações policiais, ônibus e até a sede do Ministério Público Estadual, entre a madrugada do domingo 6 e a manhã da segunda-feira 7, Saulo agiu em duas frentes. Discretamente, colocou suas tropas na rua e exibiu uma matemática de 39 prisões e seis mortes. Garantindo que está vencendo o crime organizado, ele completou o serviço com golpes de retórica para dividir a responsabilidade pelo caos com as autoridades do governo federal. Diante da oferta de tropas do Exército para conter o PCC, reagiu como se tivesse uma escopeta nas mãos: “Falta honestidade ao presidente Lula para oferecer esse tipo de ajuda”, disparou Saulo em entrevista a ISTOÉ. “Ele sabe que isso não é necessário. Quanto ao ministro Márcio (Thomaz Bastos), faz ainda pior porque é tradicionalista e não atua para agilizar a Justiça.”

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Os ataques de Saulo, que passou toda a semana fustigando o presidente e seu ministro, mexeram com os brios de Lula. “É pequenez e mau-caratismo tentar tirar proveito político da atual situação”, reagiu o presidente na quarta-feira 9, em Brasília. “Alguém que exerce o cargo de secretário de Segurança Pública deveria ser mais sensato na hora de abrir a boca.” Saulo havia dito que os ataques do PCC servem aos interesses eleitorais do PT. A ISTOÉ, avançou: “Está nos autos dos processos, em depoimentos, que o PCC teve negócios no setor de transportes da cidade de São Paulo, na administração do Jilmar Tatto, e apoiou a campanha do José Genoino para deputado federal.”
Na segunda-feira 7, o ministro da Justiça chegou a São Paulo com a oferta ao governador Cláudio Lembo de colocar tropas do Exército nas ruas de São Paulo – e outra vez o polêmico Saulo marcou sua presença, desta feita nos bastidores. A portas fechadas, numa reunião no Palácio dos Bandeirantes, Saulo disse a Thomaz Bastos que gostaria de contar com 4,5 mil homens do Exército para apoiar a vigilância às penitenciárias. Sublinhou que esse contingente teria de atuar sob suas ordens. O ministro rejeitou o pedido. “Esse raciocínio do Saulo é o de quem não quer ajuda”, afirmou ele. “Essa época eleitoral não é fácil.” Logo após o fracasso da reunião, o governador Cláudio Lembo tornou pública a posição oficial do Estado. “Não tem necessidade”, declinou. “O Exército deveria estar mais preocupado em tomar conta das fronteiras, para que não entrassem no País drogas e armas.” Mais tarde, deu uma ordem pública para que Saulo evitasse entrar em novas polêmicas. Mas quem disse que adiantou?

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O secretário Saulo acredita ter bons motivos para continuar suas diatribes. Em primeiro lugar, ele considera ter realizado em São Paulo um trabalho muito melhor na área da segurança do que o feito em esfera nacional pelo governo de Lula. “Enquanto nós construímos 20 mil vagas em presídios em três anos, eles só fizeram 3,9 mil no Brasil todo. Ou seja, realizamos sete vezes mais do que eles.” Além dessa crença, Saulo sabe que está realizando um trabalho estratégico para o candidato tucano e ex-governador paulista Geraldo Alckmin. Na primeira onda de ataques do PCC, em maio, Alckmin encolheu-se e sofreu críticas até mesmo de seu sucessor Lembo. “O impulso telefônico está caro”, ironizou o governador sobre a ausência de solidariedade da parte do candidato. Essa posição de não querer enfrentar o assunto prevalece até agora, quando as pesquisas de opinião mostram um declínio nas intenções de voto para Alckmin. Enquanto Alckmin se cala, Saulo vocifera. Seus posicionamentos francos fazem dele, desde já, um candidato a assumir cargos federais importantes na área de segurança, caso, naturalmente, o tucano chegue ao ninho do Planalto. É por isso que o secretário que começou prometendo se demitir se o governo federal liberasse alguma verba para a segurança paulista, engoliu a promessa na sexta-feira 11, diante do anúncio de R$ 79,8 milhões saídos de Brasília para São Paulo. Saulo sabe que, simplesmente, não pode cair, sob pena de levar Alckmin e ficar com a conta. De uma vez por todas, a questão da segurança pública no maior Estado do País nunca esteve tão politizada.