DIVULGAÇÃO

CAIPIRA Brad Pitt cresceu em Springfield, a mesma cidade de Jesse James, e usou o sotaque da região no filme sobre o pistoleiro

De uns anos para cá, o astro Brad Pitt virou uma espécie de fora-da-lei de Hollywood: tem um dos maiores salários (mais de US$ 20 milhões por trabalho), nunca faz o que a indústria de filmes deseja e vive em fuga das lentes dos paparazzi. Em O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford (The assassination of Jesse James by the coward Robert Ford, EUA, 2007), que estréia no Brasil no dia 23, Pitt dá vida literalmente a um fora-dalei, talvez o maior de toda a história do Velho Oeste americano. Trata-se do pistoleiro Jesse James, que já foi vivido anteriormente por Tyrone Power e Robert Wagner, entre outros, mas nunca com o carisma de um ator cuja condição de celebridade cai como uma luva para a situação do personagem retratado. É que esse Jesse James, dirigido com sobriedade e pretensões artísticas pelo neozelandês Andrew Dominik, coloca em evidência justamente a fama do bandido, àquela altura conhecido em todo o país por seus espetaculares roubos a bancos, trens e carruagens, e tema de inúmeras novelas baratas, as chamadas “dime novels” – algo como os livrinhos de cordel dedicados a Lampião. No lançamento do filme em Londres, terra dos tablóides sensacionalistas, Brad Pitt confirmou essa coincidência: “Quanto mais eu entrava na história de Jesse James, mais eu ficava surpreso em ver como esse tipo de imprensa já estava vivo e em pleno funcionamento naquela época. Já existia sensacionalismo e fabricação dos fatos. Foi muito curioso constatar que isso não mudou muito.”


REBELDE James era visto como um Robin Hood

É justamente um fanático leitor das histórias sobre Jesse James veiculadas nos jornais e nos livrinhos de bolso que divide a cena com o protagonista. Trata- se de Robert Ford (interpretado por Casey Affleck), um rapaz de 19 anos, irmão de um dos integrantes do bando de James (conhecido como James-Younger Gang), que tenta a todo custo ganhar a confiança do chefe e fazer parte do grupo. E é ele quem mata o bandido com um tiro nas costas (nenhuma surpresa, já que esse detalhe está no título do filme), coroando uma relação de admiração e ódio sob a qual muitos vêem uma enrustida paixão homossexual. Numa cena em que Ford, uma espécie de Mark Chapman do século XIX, observa James tomar banho, este pergunta a ele: “Você quer ser como eu ou você quer ser eu?” Na entrevista coletiva do Festival de Veneza, em setembro passado, Pitt (que ganhou o prêmio de melhor ator) comentou o assunto: “Não acho que exista uma conotação homoerótica na relação entre eles, mas, se causa prazer para alguns imaginar assim, não vejo problema. É até possível.”

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Como raramente acontece, Pitt tem viajado muito para o lançamento do faroeste, sempre acompanhado de sua mulher, Angelina Jolie, e dos quatro filhos – os adotivos Maddox, seis anos, Pax, três, e Zahaara, dois, e Shiloh, de um ano. Seu interesse no filme é grande. Afinal, ele é o co-produtor da fita, orçada em US$ 30 milhões, por meio de sua empresa, a Plan B Entertainment, que colocou também de pé o mais recente trabalho de Angelina, O preço da coragem, ainda em cartaz. Jesse James estava previsto para estrear no ano passado, mas ficou um ano sendo remontado até chegar às 2h40 finais (a primeira versão durava quatro horas). Como se suspeita pela longa duração, trata-se de mais um daqueles faroestes crepusculares, a exemplo de Jeremiah Johnson e outros realizados nos anos 1970. Dessa vez, o foco foi lançado nos últimos anos de um pistoleiro, justamente naquele período em que, cansado da vida de crimes, ele decide levar uma vida anônima com a mulher e os filhos em alguma fazenda perdida no horizonte.

Foi exatamente isso o que aconteceu com o Jesse James da vida real, que foi morto em 1882, aos 35 anos. Considerado um mito pop como Elvis Presley ou James Dean, James foi homenageado por músicos como Bob Dylan, John Lee Hooker, Bruce Springsteen e Woody Guthrie, que o comparou a Robin Hood. A aura de rebelde veio da natureza de seus roubos: egresso das fileiras confederadas da Guerra da Secessão americana, ele justificava seu saque aos bancos como uma resposta à espoliação das terras sofrida pelos pequenos proprietários de terra sulistas, sua família incluída. Esse aspecto de sua biografia foi colocado em relevo pelo historiador inglês Eric Hobsbawn, no livro em que estuda o surgimento do banditismo social. Pitt aposta nesse mito e se diz até orgulhoso de aumentar-lhe o brilho com seus olhos azuis e cachos dourados – no filme, tingidos de preto. Segundo Pitt, 125 atores já interpretaram James, mas apenas ele tem uma conexão especial com o retratado: os dois cresceram na cidade de Springfield, no Estado de Missouri (Pitt nasceu em Oaklahoma, mas foi para aquela cidade ainda pequeno). “Eu não conhecia muito sua história, mas obviamente conheço bem sua região e sobretudo seu sotaque. Há muito tempo não podia falá-lo e foi um prazer tornar a fazê-lo nesse filme”, disse ele em Veneza. Na condição de astro, pode agora falar errado sem o risco de ser chamado de caipira, como aconteceu em Thelma & Louise, de 1991, o filme de Ridley Scott que o revelou e no qual interpretava um caubói às voltas com as duas mulheres entediadas com a vida.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias