Foi um desconforto causado pelo cinto de segurança do carro que alertou o assistente administrativo José Messias Gonçalves, 52 anos, para o fato de que havia algo errado no seu mamilo direito. “De uma hora para outra começou a me dar mal-estar. A sensação era de que tinha uma espinha ali. Não doía, mas coçava”, lembra Gonçalves. Sete meses depois dos primeiros sintomas, ele recebeu o diagnóstico de câncer de mama e, no ano passado, fez uma cirurgia para retirada do tumor e da mama. O vigilante Cláudio Barbosa Leal, 39 anos, também descobriu algo diferente no seio esquerdo por acaso. “Durante o banho, notei um carocinho. Achei estranho, mas não dei atenção” conta Leal. Isso aconteceu em 2005, mas Leal só foi diagnosticado no ano passado. Dentro de alguns meses, fará mastectomia (retirada completa da mama). Os relatos desses dois homens mostram que o câncer de mama não fica restrito às mulheres. Revelam também que os sinais de alerta ainda são desconhecidos da população. “Alguns homens nem sabem que têm mama. Tampouco que podem ter um câncer nessa região”, diz Mário Mourão, diretor do Departamento de Mastologia do Hospital A.C.Camargo, de São Paulo. Além disso, muitas vezes as alterações não são valorizadas como deveriam. “Há casos de pessoas que passam anos tratando lesões com pomadas,” afirma o mastologista Pedro Aurélio Ormonde, do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

O desconhecimento também é comum entre os médicos. Poucos se preocupam em explicar aos seus pacientes que a presença do tumor entre parentes de primeiro grau pode representar riscos para os homens da família. Ou seja, se a mãe dele, a avó, a irmã ou a filha tiveram câncer de mama, suas chances de enfrentar o problema são maiores do que as de outros homens. “Nesses casos, o rastreamento começa a partir dos 35 anos”, alerta Mourão. Outros riscos são a exposição freqüente a altas temperaturas, a idade acima de 60 anos e ter passado por doenças inflamatórias nos testículos, como a orquite. “Mesmo ocorridas na infância, elas podem provocar alterações na produção do hormônio feminino estrogênio, que também existe no corpo dos homens. O aumento da circulação desse hormônio exerce impacto importante no aparecimento do tumor”, explica Ormonde.

Os tumores de mama masculinos representam 1% de todos os casos de câncer mamário. Nos Estados Unidos, a estimativa é de 2.030 novos casos para este ano. No Brasil, acredita-se que haverá cerca de 50 casos. Mas, apesar da baixa incidência, esses tumores são diagnosticados em estágio muito avançado. A conclusão dos especialistas é que, para começar a reverter esse quadro, os homens precisam aceitar a idéia de que é necessário se prevenir. E, para isso, a melhor ferramenta é o auto-exame. Não dói e pode salvar vidas. “Qualquer alteração deve ser mostrada a um mastologista. Diagnosticado em estágio precoce, o câncer de mama tem 90% de chances de cura”, diz Mourão.

KARIME XAVIER  

DIAGNÓSTICO Gonçalves, à direita, retirou a mama direita. O vigilante Leal aguarda a cirurgia