O debate está no ar. A campanha está na rua. A situação requer uma resposta clara e firme por parte das autoridades judiciais: afinal os pré-candidatos presidenciais estão ou não cometendo crime eleitoral nessa temporada que antecede a confirmação de seus nomes? Todo mundo vê e o TSE ainda não pune a quebra escancarada de uma das premissas básicas na corrida às urnas que é a proibição do uso da máquina pública. As evidências nessa direção são muitas. O festival de inaugurações, as viagens promocionais bancadas com recursos do Tesouro, os discursos atrelando projetos futuros a candidaturas oficiais e até mesmo a montagem de pomposos comícios, com direito a palanque e tudo em cerimônias de governo, são demonstrações inequívocas de que a propaganda eleitoral ganhou força com essa prática irregular.

A ministra Dilma Rousseff e o governador paulista, José Serra, ainda na liturgia dos cargos que ocupam no Poder Executivo, deixaram de lado a rotina dos escritórios para mergulhar de cabeça em cerimônias e aparições públicas com a clara missão de turbinar seus nomes.O presidente Lula faz galhofa com as movimentações do candidato da oposição: “Tem gente inaugurando até maquete”, disse em cerimônia na qual ele mesmo carregava sua escolhida Dilma para mais uma das sessões de exposição aos flashes e câmeras. Irritou-se depois ao ser criticado por inaugurar com Dilma um hospital que não recebeu sequer um centavo de investimento do governo federal. O governador Serra, por sua vez, passou a última semana em uma verdadeira caravana, percorrendo de carro cidades vizinhas, inaugurando pedras fundamentais entre um aperto de mão e conversas ao pé do ouvido com eleitores. Nunca se viram tantas demonstrações abertas de que os postulantes oficiais estão recorrendo à poderosa arma que é a máquina pública. E, apesar disso, todas as representações que são encaminhadas ao Tribunal Eleitoral para brecar essa escalada vêm sendo sistematicamente derrubadas. A campanha mal dissimulada se intensificou pela ausência de respostas. O ritmo da agenda de inaugurações e solenidades públicas para alavancar candidaturas já ultrapassou o número de mais de uma por dia. Nessa situação, se não vão ocorrer mesmo punições, melhor seria o País despir a máscara da hipocrisia e derrubar logo o veto a tal prática.