AUBERT DE VILLAINE “Vejo garrafas vendidas em leilão por preços ridículos de US$ 20 mil. O vinho é para ser bebido”

Como todo francês que se preza, monsieur Aubert de Villaine, 68 anos, desembarcou no Brasil e foi pegar uma praia. Com a tez levemente tostada pelo sol tropical, ele não seria reconhecido no Palácio do Planalto ou no Congresso, caso tivesse incluído Brasília na viagem de dez dias pelo País. Tamanho anonimato é marca registrada de quem prefere que os vinhos falem por ele. Aubert de Villaine é o dono do Domaine de la Romanée- Conti, cujas uvas Pinot Noir produzem na Borgonha o vinho mais caro do mundo, símbolo mundial de status e de poder. Romanée-Conti, esse sim, quem é rico ou poderoso já ouviu falar dele, embora só alguns poucos tenham tido o prazer de conhecê-lo. Romanée- Conti, aquele que, de safra 1997, Duda Mendonça mandou abrir para comemorar a virtual eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, após o último debate político da eleição de 2002.

Na sua primeira visita ao Brasil desde esse episódio, Aubert de Villaine deixou Brasília de lado e impôs uma condição para a eventualidade de Lula desejar algum dia visitá-lo. “Se ele ama o vinho, eu o receberia”, diz. “Por outras razões, não.” Foi com a convicção de quem vive por uma causa nobre que ele se negou a receber Giscard d’Estaing, o presidente da sua pátria amada, porque ele não gostava de vinho. Mais recentemente, um assessor do presidente do Cazaquistão quis marcar uma visita oficial à vinícola.

– Ele gosta de vinho? – repetiu De Villaine.

– Ele não bebe, mas tem muito dinheiro – respondeu o assessor.

A visita nunca aconteceu.

Quando é lembrado do caso de Lula, De Villaine sorri com a recordação de que os brasileiros chegaram a criar o site “romaneecontiparatodos”. “É impossível fazer Romanée-Conti para todos”, diz. Seu vinhedo tem apenas 1,8 hectare (18 mil metros quadrados) e, dependendo da produtividade da safra, entrega a cada ano entre 4 mil e 6 mil garrafas. Elas são disputadas anualmente por sheiks, reis, milionários e outros poderosos. No Brasil, é famosa a coleção do deputado Paulo Maluf, que recebeu De Villaine para jantar na sua primeira visita ao País, em 1993. Entre os enófilos de São Paulo corre a versão de que, depois de conhecer a adega de Maluf, ele teria dito diante da quantidade e variedade de safras de vinhos do Domaine: “Só vi isso em país subdesenvolvido.” A ISTOÉ, De Villaine garante: “Não é meu estilo.”

Não é mesmo. Seu discurso é uma crítica veemente aos colecionadores que inflaram o mercado, trazendo às garrafas um peso que ameaça o prazer. “Lamento o efeito especulativo porque vejo garrafas do Domaine vendidas em leilão por preços ridículos, irreais, de US$ 20 mil”, diz. “O vinho é para ser bebido e não para se pagar caro para tê-lo na adega.”