LULA MARQUES/FOLHA IMAGEM

NEM COM REZA Tasso e Azeredo estão dispostos ao diálogo. Outros querem a guerra

Emparedados entre o governo, que passa o rolo compressor na Câmara dos Deputados, onde tem maioria, e os governadores tucanos, que precisam do dinheiro da CPMF, o PSDB mais uma vez deu mostras de que não sabe como fazer oposição. Depois de acenar para o governo, os senadores tucanos rechaçaram a proposta de acordo em torno da prorrogação da CPMF. Mas, ao mesmo tempo, não definiram uma posição quanto à votação da emenda quando ela for à apreciação no plenário do Senado. Deixaram a questão em aberto. Bom para o governo, que poderá negociar votos no varejo e poderia contar com cinco a seis dos 13 votos tucanos, nas contas do próprio PSDB. “Vamos conseguir aprovar com diálogo, com corpo a corpo, conversando com todos os senadores”, disse o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Ou seja: num lance dúbio, o PSDB agradou aos seus governadores – especialmente José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, que desejam o repasse que lhes cabe do imposto –, não rompeu inteiramente com o Planalto, e ainda deixou espaço para manter o discurso oposicionista, já que não fechou acordo com o governo.

Oficialmente, o PSDB classificou como pífia a contrapartida oferecida pelo governo para aprovar a CPMF. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, propôs aumentar em R$ 24 bilhões o repasse da CPMF para a Saúde e estabelecer uma faixa de isenção do imposto para quem ganha até R$ 4,3 mil, entre outras coisas. Prometeu, ainda, o envio de um projeto de reforma tributária até 2009. “O sr. nos perdoe, mas essa proposta nos parece muito tímida”, reagiu o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). O PSDB queria um compromisso de redução da atual alíquota, de 0,38%. O governo negou a idéia. Na reunião, os tucanos não chegaram a dizer um não peremptório a Mantega, mas já frustraram a expectativa de que dali saísse um acordo. O presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), explicou ao ministro que a oferta do governo precisaria ser discutida na bancada. Dali os senadores foram para o gabinete de Tasso e, por 9 votos a 4, suspenderam a negociação com o governo.

A verdade, porém, é que os tucanos já chegaram divididos à mesa de negociação. Isso ficou claro na entrevista que a cúpula do partido deu após a reunião no gabinete de Tasso Jereissati. “Não é uma decisão final. Evidentemente, vamos conversar se o governo chegar perto do que é relevante”, disse ele. “A bancada encerrou a negociação”, reagiu, no sofá ao lado, Sérgio Guerra, que assumirá o lugar de Tasso dentro de um mês. “Há fechamento de questão”, chegou a dizer o senador Papaléo Paes (AP).

Não obter o apoio dos tucanos para a negociação foi algo que irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reclamou da negociação empreendida por Mantega. O ministro da Fazenda argumenta que fez uma proposta e o PSDB não a aceitou. “Eu entendo que, agora, a bola na verdade está com eles”, disse. “Que apresentem, então, alguma outra proposta.” Isso é algo que o PSDB já resolveu que não fará. O PSDB poderia ter saído da negociação entregando à sociedade alguma redução da carga tributária. Agora, corre o risco de ver alguns senadores ajudarem a aprovar a CPMF. Ou seja, ficará com o ônus, depois de ter se negado a dividir algum bônus. O muro é um péssimo lugar para se fazer política.