MONTAGEMALEX SILVA SOBRE FOTOS DE TASSO MARCELO/AE E MARCELO CASAL JR/ABR

ENROLADOS Sérgio Rosa e Gushiken (à dir.) são acusados pela ex-tradutora Luciane Araújo

Uma prisão feita na Itália na segunda-feira 5 coloca sob suspeita de receber propinas uma série de parlamentares e policiais federais brasileiros e tem a força de provocar uma reviravolta nas investigações sobre a maior disputa societária já ocorrida no Brasil: o controle da Brasil Telecom. O nome do preso é Angelo Jannone. Entre 2004 e 2006, ele foi o chefe de segurança da Telecom Italia no Brasil e, segundo as investigações feitas por procuradores de Milão, teria comandado um esquema que levou a Polícia Federal a desencadear a chamada Operação Chacal, tendo como alvo o grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, e a Kroll, uma empresa de investigações americana. A Operação Chacal acusou a Brasil Telecom de usar a Kroll para espionar autoridades do governo federal em Brasília. Na Itália, Jannone foi preso porque o juiz Giuseppe Gennari concluiu que tudo o que foi “descoberto” por aqui não teria passado de uma grande armação. De acordo com a procuradoria de Milão, foi uma equipe coordenada por Jannone, conhecida como Tiger Team, que teria espionado a Kroll, inclusive invadindo seus computadores e posteriormente editado a gravação de um CD. Essa gravação teria sido entregue à PF e orientado todas as investigações da Operação Chacal. Da equipe de Jannone fariam parte o ex-policial federal João Álvaro de Almeida, o delegado Eloy Lacerda, que, segundo o próprio Jannone, seria sócio oculto de Mauro Marcelo de Lima e Silva, exchefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e o espião Marco Bernardini. O grupo contaria ainda com a participação de ex-funcionários do Opportunity, entre eles Luiz Roberto Demarco e Marcelo Elias. Os dois últimos, de acordo com depoimentos prestados à Justiça italiana, administrariam propinas a serem pagas para políticos e policiais brasileiros.

A versão defendida pelos procuradores italianos ganhou maior consistência na quinta-feira 8. Em entrevista ao site Consultor Jurídico, Luciane Araújo, que se apresenta como ex-tradutora de Bernardini, acusa diversas autoridades de receberem propinas do grupo de Jannone. Estariam envolvidos no esquema o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o empresário Luiz Roberto Demarco. Luciane também acusa a senadora Ideli Salvatti, do PT catarinense, e o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). Ela afirma que intermediava as conversas secretas de Bernardini com os brasileiros que supostamente recebiam propina, traduzindo para o italiano as respostas dadas pelos brasileiros, e vice-versa. Luciane também revelou que recebia documentos diretamente da Polícia Federal, que eram repassados para a equipe de espiões italianos. “Eram faturas altíssimas. Havia colaborações em torno de US$ 600 mil a US$ 650 mil.” Ainda conforme a tradutora, o português Tiago Verdial, até então considerado um espião da Kroll, estaria, na verdade, trabalhando para a Telecom Italia.

ANDRÉ DUSEK

REAÇÃO Ideli responde com ironia

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Na entrevista, Luciane diz que foi “convocada” três vezes pela Justiça italiana, sendo que nas duas primeiras vezes prestou depoimentos oficiais e na terceira depôs como “informante”. A senadora Ideli Salvatti reagiu com humor às declarações de Luciane e acredita que tudo não passe de uma armação do banqueiro do Opportunity: “O Daniel Dantas está perdendo mais do que o Corinthians na Justiça”, reage a senadora.

Além da entrevista, Luciane entregou ao Consultor Jurídico um depoimento que ela teria feito com base no que disse às autoridades italianas. Nesse documento, outros nomes são citados como contatos de Bernardini; entre eles estão os ex-deputados Luciano Pizzato, Francisco Perrone e Fleury Filho, o publicitário Duda Mendonça, o lobista Alexandre Paes dos Santos, Sérgio Ricardo Rosa, do Fundo de Previdência do Banco do Brasil, e “Márcio Thomaz”, suposta referência ao ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. A metralhadora giratória da tradutora também alcançou personagens importantes do PT, DEM e até do PSDB. Entre as pessoas supostamente investigadas pelo tal esquema, Luciane inclui o então senador Antônio Carlos Magalhães, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o atual secretário de Transportes do DF, Alberto Fraga, o doleiro Antonio Claramunt, conhecido como Toninho da Barcelona, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o atual governador de São Paulo, José Serra, e sua mulher, Mônica. Segundo a extradutora, o esquema de Jannone buscava documentos que provassem eventuais ligações de Daniel Dantas com o ex-presidente FHC.

Na semana passada, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), pediu que a Procuradoria da Casa avalie se investigará o suposto pagamento de propina a parlamentares, com base em denúncia publicada na revista italiana Panorama feita por um ex-diretor da Telecom Italia, Giuliano Tavaroli, em depoimento à Justiça daquele país. De acordo com a denúncia, mais restrita do que a feita por Luciane Araújo, a Telecom Italia teria feito pagamentos a parlamentares da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara em 2003. A reportagem da revista diz que um emissário da empresa desembarcou em Brasília, em abril daquele ano, transportando US$ 300 mil.

As acusações feitas tanto na Itália como no Brasil começaram com o próprio Jannone, que prestou depoimento secreto à Procuradoria de Milão em setembro de 2006. Na ocasião, a revista Istoé- DINHEIRO revelou o conteúdo de suas declarações, que já apontavam para o fato de a Telecom Italia ter obtido o apoio da Polícia Federal brasileira e da Abin numa disputa empresarial privada.


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