Quem viu os programas eleitorais não resiste à tentação de achar que esse é um país abençoado por Deus. Ali não há violência – pelo menos nenhum candidato mostra –, só há realizações. Sanguessugas, mensaleiros, onde foram parar? Não são daqui, não no mundo da telinha. Sobram recordes de criação de empregos, de crianças nas escolas, de assistência médico-hospitalar, de conclusão de obras vitais. O futuro, naquela programação plácida dos marqueteiros, é ainda mais glorioso. Com o clássico bordão “no meu mandato vou…”, surge uma série de idéias para atender a todos os desejos do eleitorado: “criar” isso e aquilo, “ampliar os programas” tais e tais, “promover”, etc., “baixar” índices de juros, analfabetismo e por aí vai. O debate sério e com propriedade descarrilhou na telinha. Lá só surgem os candidatos empastelados, como a tentar maquiar a realidade. Alguns espectadores desavisados podem até formular o sonho: “Quero morar no país do programa eleitoral”, sem nada daquilo que aflige o dia-a-dia. Mas a fantasia se apaga logo depois que termina o horário gratuito dos partidos políticos e começam os telejornais. Essa depuração no espaço político-partidário dos temas tidos como espinhosos talvez esteja ligada ao fato de que poucos escapam de um ou outro envolvimento, tamanha a teia de opções de irregularidades que apareceu. Vale de tudo para fugir do vendaval de crises, até infidelidade partidária e desembarque prematuro de alianças que deviam estar firmes neste que é o tal momento decisivo.