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Piñera recebe Hillary Clinton em sua visita ao Chile na semana passada

O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, que assume nesta quinta-feira, deverá privilegiar a diplomacia comercial em sua relacão com a América Latina, perfilando-se como um líder de posições críticas em relação a Cuba e ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, estimam analistas e políticos.

"O Chile tem mantido com as demais nações uma diplomacia econômica ou comercial mais que política, e não vai modificar essa situação com seus vizinhos", disse o cientista político da Universidade do Chile, Ricardo Israel, à AFP.

"O político mais próximo a ele não está eleito: é o candidato presidencial argentino Mauricio Macri", considerou.

"Piñera, um empresário bilionário, conseguiu o poder para a direita chilena através das urnas após 52 anos.

Sobre o novo chefe de governo chileno, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pediu evitar a menção "direitista".

"Não estou de acordo em dividir a América Latina entre governos de esquerda e direita. Isso era válido no passado quando foram trazidas ideias da esquerda europeia para combater as ditaduras latino-americanas, mas hoje é uma qualificação que polariza", afirmou o governante.

"A mudança pela qual passará o Chile, no meu entender, é em nível da Organização das Nações Unidas. Provavelmente o país terá uma atitude mais forte em relação a Cuba e à Venezuela de Chávez", acrescenta Ricardo Israel.

O analista em temas internacionais de defesa, Raúl Sohr, recorda que para o Chile, o comércio sempre foi fundamental, sem, no entanto, optar por ideologias na política exterior.

"Mudaram as afinidades, mas a política externa do Chile não é ideológica. Temos mais de 50 acordos comerciais com o mundo. Há quem diga que somos os fenícios da América Latina. Com Piñera, esse critério vai prosseguir", comenta Sohr à AFP.

"Não se pode falar de uma reviravolta para a direita ou de desequilíbrio. O Chile tem interesses em manter as melhores relações com o continente", disse.

"Não vamos interferir, mas não vamos aceitar nenhum tipo de influência que Hugo Chavez tenha desejado desencadear. Se há respeito mútuo e intercâmbio não deveria haver inconveniente. Mas não vamos permitir infiltrações nem influências", disse à AFP o deputado da direita Iván Moreira.

Para o jornalista peruano Alvaro Vargas Llosa, Piñera terá que lidar com uma complexa variedade de líderes na região, e que "será necessário tratá-los ainda que tapando o nariz".

Vargas Llosa prevê em geral boas relacões com Peru, Bolívia e Argentina, os vizinhos imediatos de Chile, e terá a vantagem da admiracão nutrida pelo colombiano Uribe por Santiago, que buscará maior proximidade.

Além disso, considera que Piñera buscará privilegiar uma "relacão de trabalho" com o Brasil, apesar de não ter afinidades com o presidente Lula.

Sebastián Piñera assume a presidência do Chile neste 11 de março, em substituição a Michelle Bachelet, após derrotar nas urnas Eduardo Frei, cuja coalizão governou o país por 20 anos, após a queda da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

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