A crise chegou ao Brasil. E já atingiu o mercado de trabalho. Em condições normais, as crises econômicas afetam o emprego e a taxa de desemprego com uma defasagem de alguns meses. Em geral, o primeiro sintoma de crise ocorre no comportamento da demanda por bens e serviços. A queda de demanda faz com que as empresas diminuam sua produção, mas ainda mantendo os trabalhadores empregados, pois demitir e recontratar trabalhadores tem um custo elevado. Caso a demanda não retorne aos níveis anteriores, as empresas começam a adaptar o tamanho de sua força de trabalho aos novos níveis de produção, demitindo trabalhadores e gerando aumento da taxa de desemprego. Desta vez, as coisas não estão ocorrendo desta forma. A geração de empregos com carteira assinada mostrou forte redução em relação ao que vinha ocorrendo até setembro (60 mil contra 250 mil, respectivamente). Em novembro, foram destruídos 40,8 mil empregos formais, a taxa de desemprego mostrou uma pequena elevação e o número total de trabalhadores ocupados caiu pela primeira vez neste mês desde que a pesquisa começou a ser realizada. Como novembro é um mês que sazonalmente o volume de emprego aumenta, estes são números preocupantes. Este comportamento do mercado de trabalho reflete uma característica importante desta crise: contração forte do crédito. As economias modernas funcionam à base de crédito. Uma retração do crédito reduz imediatamente a produção, o emprego e a demanda. Como tudo ocorre simultaneamente, não faz sentido para as empresas reter trabalhadores em suas linhas de produção na expectativa de que ocorra um retorno da demanda no futuro. Com isto, demitem trabalhadores para se adequar à nova realidade. O problema é ainda mais grave porque, até setembro de 2008, empresas e trabalhadores tinham uma expectativa de crescimento sustentado da economia a níveis próximos a 6% ao ano durante muitos anos. Isto significa que os planos de investimento e de contratação de mão-de-obra foram feitos com base nestas previsões. Como a economia vai encolher em vez de crescer, devemos esperar um crescimento da capacidade e um número relativamente grande de trabalhadores ociosos. O resultado é uma redução drástica do investimento e do emprego. Com o aumento do desemprego, a renda das famílias cai e as notícias desse aumento tornam os trabalhadores mais pessimistas quanto à sua capacidade de manter o emprego, o que gera mais pessimismo e mais redução de demanda. Por outro lado, o crescimento do crédito à pessoa física está diretamente relacionado à geração de empregos formais. As pessoas se endividam com base na expectativa de que permanecerão empregadas e terão algum ganho de renda real no futuro. Além disso, no caso do crédito consignado, a garantia do emprestador é a manutenção do emprego pelo trabalhador. A queda abrupta do nível de emprego significa um rompimento desta cadeia, o que torna difícil para as pessoas cumprir com os compromissos financeiros e para os bancos executar as garantias. O resultado será um aumento da inadimplência e maior restrição de crédito, potencializando a queda de demanda e da produção, o que torna mais difícil a recuperação da economia. O banco de horas, a suspensão do contrato de trabalho e outras reformas institucionais introduzidas na legislação trabalhista nos últimos anos serão importantes para reduzir o aumento do desemprego. Porém, o aumento programado do salário mínimo em 2009, que poderá chegar a 11%, fatalmente irá aumentar o desemprego e a informalidade. A ressaca chegou forte.