FOTOS: SÉRGIO AMARAL

Obra: MUSEU NACIONAL DE BRASÍLIA
Inaugurado em: 15 de dezembro de 2006
Problemas: é escuro e fechado, não tem acervo nem chapelaria

A obra do arquiteto Oscar Niemeyer é admirada em todo o mundo. Seus traços modelam a silhueta do Palácio do Itamaraty, em Brasília, exaltam as curvas da Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e arrancam elogios no Exterior, como o Parque Aquático de Potsdam, na Alemanha. Um gênio? Sem dúvida. Mas os gênios também têm momentos ruins e com Niemeyer não é diferente. Ele costuma ser criticado por projetos pouco funcionais, inúteis e até de gosto duvidoso. A mais recente obra do arquiteto na capital federal – o museu e a biblioteca do Conjunto Cultural de Brasília, inaugurados há pouco mais de um ano – reúne todas essas características. “É uma desonra para um país como o Brasil e desconfortável para a arte”, disse o jornal The New York Times, referindo-se à falta de luz natural do museu que mais parece uma cuia. O diário nova-iorquino vai mais longe e diz que as obras de Niemeyer são “mal acabadas” e seus edifícios “descuidados”.

As críticas ecoam por aqui. “A biblioteca e o museu são fabulosamente ruins. O museu parece mais uma colina de material de construção, tudo por dentro e por fora é malfeito. A biblioteca é caso de Procon”, diz Frederico Flósculo, professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília. “Oscar se esqueceu completamente do usuário. Esse museu serve mais para ser o memorial Niemeyer e mesmo assim só dá para entrar com ar-condicionado.” O museu não tem acervo nem função. Claro, a culpa por não expor obras pode ser creditada aos curadores. Mas o espaço é também criticado por ser escuro e fechado. A mostra mais importante até o momento foi a do próprio Niemeyer. “O museu é limitado a determinados tipos de exposições. É um grande salão”, diz o arquiteto Daniel Mangabeira. “Niemeyer pecou na funcionalidade e isso trouxe prejuízos ao público.”

A Biblioteca Nacional é uma réplica dos edifícios do realismo soviético dos anos 50, presentes nos primeiros blocos de apartamentos de Brasília. Inaugurados em 1960, eles hoje sofrem grande desvalorização por questões estéticas. O prédio é todo guarnecido de vidros e fica virado para o poente, sob o sol escaldante de Brasília. Por isso, precisam ser revestidos de forma a proteger os livros. “Sem a película que impedirá que o sol atinja o acervo e os visitantes, fica difícil montar o espaço”, reclama o diretor da biblioteca, Antônio Miranda. Colocar o artefato custará em torno de R$ 160 mil. A previsão é que a biblioteca, inaugurada duas vezes, só comece a funcionar, de fato, daqui a três anos, diz Miranda. O Conjunto Cultural conseguiu ainda atrapalhar a vista da majestosa Esplanada dos Ministérios para quem chega pelo Eixo Monumental pelo Oeste.

O Memorial dos Povos Indígenas é outra obra que ficou anos ociosa. Espécie de parafuso gigante que leva a uma oca, recebeu uma película roxa nos vidros para conter o calor. Aliás, este é um dos maiores problemas dos prédios de Niemeyer em Brasília. Recentemente, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, sentiu o drama na pele. Ele resolveu celebrar a passagem de seu aniversário na Catedral, espécie de igreja-estufa nos dias mais quentes. Arruda foi sucumbindo aos poucos ao calor, tirou o blaser e arregaçou as mangas da camisa azul que, antes mesmo do ritual da comunhão, estava encharcada.

Atrás de todos esses projetos está o escritório de Niemeyer em Brasília, que não passa por crises por ter a preferência para novas criações na capital, com preço 30% acima dos de mercado, segundo especialistas. Seus discípulos não gostam de discutir as obras do mestre que deram errado. “Esse debate é para sacanear o mago da arquitetura”, reclama Carlos Magalhães, sócio de Niemeyer.

Obra: MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS
Inaugurado: em março de 1989
Problemas: o espaço é inadequado para o acervo, o interior é escuro e uma película roxa reveste os vidros

Obra: BIBLIOTECA NACIONAL DE BRASÍLIA
Inaugurada em: 15 de dezembro de 2006
Problemas: na prática, o local ainda não funciona. Está vazio e levará mais três anos para ter acervo porque o prédio é mal posicionado e precisa ter os vidros cobertos com uma película (com um custo de R$ 160 mil) para o sol não bater nos livros