Centro econômico do Equador, a cidade de Guayaquil abriga o maior foco de resistência à reforma constitucional do presidente Rafael Correa, que se elegeu em 2006 com a promessa de "refundar" o país. Neste domingo 28, os equatorianos vão às urnas referendar ou não a Constituição de teor socialista proposta pelo governo. Na reta final de uma campanha de 45 dias, o presidente decidiu reforçar seu discurso nacionalista. Dando seqüência a uma disputa com a construtora Odebrechet, ele ameaçou na quarta-feira 24 não pagar uma dívida de US$ 243 milhões contraída com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Esse dinheiro nem sequer chegou ao país, foi entregue à empresa (Odebrechet)… E aparece como dívida do Equador com o Brasil", comentou Correa, durante encontro com jornalistas em Quito. "Além do mais, é um empréstimo de milhões de dólares para um projeto que não presta."

Escaldado com as crises na vizinhança, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembrou em Nova York, onde participava de encontro da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que era melhor discutir o problema depois do referendo. "Vamos ter de deixar a bola passar para resolver este problema", afirmou. Não é a primeira vez que Correa anuncia decisão de boicotar pagamentos. Logo depois de eleito, ele ameaçou não pagar instituições internacionais, mas depois voltou atrás. Desta vez, a ameaça veio um dia depois de seu governo expulsar do Equador a empreiteira brasileira Odebrecht, embargar os bens da empresa, mandar o Exército ocupar canteiros de obras e suspender direitos constitucionais de quatro funcionários. Dois deles, que se encontravam no país, buscaram refúgio na Embaixada brasileira em Quito.

Envolvida em cinco projetos no Equador, ao custo total de mais de US$ 1 bilhão (leia quadro), a Odebrechet concluiu em junho de 2007 o primeiro deles – a Hidrelética de San Francisco, subterrânea, localizada nas imediações do vulcão Tunguraha, que responde por 12% da produção de energia do país. Ocorre, porém, que devido a falhas estruturais, a usina parou de funcionar no último mês de junho. A empresa garante que, antes mesmo de discutir responsabilidades, assumiu os trabalhos de reparo. Com as últimas medidas tomadas por Correa, a construtora defende agora a indicação de uma arbitragem internacional para resolver o impasse.