Os índices de educação no Brasil continuam a trazer más surpresas. Muitos falam no aumento da quantidade de crianças e jovens que vão às escolas. Mas por trás desse avanço do ingresso de alunos ainda estão muitas distorções. O IBGE revelou na semana passada que mais de 2,1 milhões de estudantes, com idade entre sete e 14 anos, podem ser considerados analfabetos. Em outras palavras: são jovens que freqüentam ou estão matriculados em instituições de ensino, mas não estão aprendendo. O quadro é desolador: basta verifi car que este número corresponde a 87,2% dos 2,4 milhões de analfabetos que o Brasil tem na faixa de idade entre sete e 14 anos. Os outros 300 mil estão à margem, absolutamente fora do sistema de ensino. Nos números do instituto dá para se notar ainda que cerca de 30% das crianças com sete anos matriculadas nas escolas não sabem ler e escrever. Essa é considerada a idade fundamental na trajetória de formação dos jovens. E logo nessa faixa etária os números não são nada animadores. Em especial quando se olha para a parte de cima do mapa. A desigualdade social e regional do País tem impacto forte nas estatísticas. No Nordeste do Brasil, o índice dos analfabetos de sete anos sobe para 44%. No Norte, para 39,6%.

O que o trabalho do IBGE traduz essencialmente é que as autoridades, o Estado e o sistema como um todo têm falhado no objetivo básico da educação. Seja pelo conteúdo didático inadequado, seja pela falta de investimentos na formação dos professores, pela má qualidade das estruturas educacionais ou pelo conjunto dessas defi – ciências. A educação, como todos sabem, é a pedra fundamental no desenvolvimento de qualquer país. E o Brasil tem demorado a fazer o salto de padrão nessa área – podendo vir a comprometer todo o resto. O orçamento destinado pelo governo para tirar o atraso, que vem de décadas de descaso, está longe do ideal. A sociedade, em um grande mutirão que reúna a iniciativa pública e privada, tem que se mobilizar para reverter essa rea lidade. E um dos caminhos é afastar da frente a idéia da escola que não ensina, que serve apenas como fachada de marketing para interesses eleitoreiros. Já seria um bom começo.

Carlos José Marques, diretor editorial