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CARREIRA
Coelho fez cinema e artes da computação antes de chegar ao MIT

Depois das impressoras tridimensionais, de peças para a indústria e até daquelas que reproduzem tecidos e órgãos humanos, chegou a hora de imprimir comida. Essa ideia povoa o imaginário humano há décadas. Não foram poucas as obras de ficção científica que conceberam um futuro em que máquinas fabricariam banquetes a partir de alguns insumos básicos. Ainda estamos longe dos banquetes, mas um protótipo desenvolvido no Massachusetts Institute of Technology Media Lab (MIT-ML), nos Estados Unidos, por um jovem talento brasileiro deu um passo importante em direção a esse objetivo no começo de 2010. Batizado de Cornucopia, o aparelho mostrou que já é possível imprimir um alimento complexo com controle absoluto sobre a quantidade e a ordem dos ingredientes que o compõem, além do formato final da refeição. “E ficou bem mais gostoso do que eu esperava”, brinca Marcelo Coelho, paulista de 29 anos que, junto com o colega israelense Amit Zoran, idealizou e construiu a engenhoca. Ele não pode revelar o que imprimiu nem fornecer detalhes do método que criou, pois sua invenção ainda está sendo patenteada.

A praticidade é uma das facetas do projeto. Com uma impressora de comida, o dono de um aparelho desses poderá encomendar seu jantar remotamente e pedir que esteja pronto, com sabor de refeição fresca, na hora em que ele chegar em casa. Receitas poderiam ser trocadas virtualmente em redes sociais e o Cornucopia permitiria até a alteração de alguns parâmetros para atender ao gosto do freguês. “Poucas áreas permaneceram tão inexploradas pela tecnologia quanto a cozinha”, diz Coelho. Indústrias alimentícias já usam robôs para montar pratos congelados, como lasanhas, mas nada se assemelha ao que o pesquisador conseguiu fazer. Com controle rigoroso garantido pela Cornucopia, Coelho também espera fabricar sabores e texturas inéditos ao paladar humano. A máquina controla a composição dos alimentos que produz em nível molecular e seu formato à exatidão de até um décimo de milímetro. A temperatura e umidade do produto final também podem ser reguladas com precisão inimaginável até para chefs como o espanhol Ferran Adrià, famoso por sua “gastronomia molecular”.

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Mas, ao contrário do que se pode imaginar, Coelho não tem formação em engenharia ou tecnologia de alimentos. A base de sua educação superior é artística. Ele chegou a cursar cinema na Universidade de São Paulo (USP) quando tinha 20 anos, pouco antes de se mudar para o Canadá, onde se formou em artes da computação pela Universidade Concórdia, em Montreal. A inquietude diante dos limites de sistemas robotizados o levou para o MIT Media Lab, centro mundial de excelência em engenharia. “O que faço aqui não é muito diferente do que faria no cinema”, teoriza. “Gosto de criar experiências completas e poderosas”, diz. Ele só não sabe quando o produto estará disponível no mercado, mas coloca o final de seu doutorado no MIT como meta. “Faltam três anos, quem sabe até lá eu não consigo terminar”, diz.