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“Os brasileiros dizem que falta confiança na relação com os EUA”
Hillary Clinton, secretária de Estado

A “agenda positiva” que a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pretendia inaugurar em sua passagem por Brasília, na quarta- feira 3, deverá ser esquecida no fundo da gaveta. Pelo menos até o final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar do banquete protocolar, a recepção a Hillary no Itamaraty foi muito pouco diplomática. Tanto Lula quanto o chanceler Celso Amorim preferiram usar o encontro para marcar posições em defesa das negociações com oIrã e abordar, de forma franca, os conflitos comerciais que envolvem as barreiras tarifárias ao etanol e a retaliação autorizada pela OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC) no caso do algodão. Hillary, que esperava um contato amistoso no qual convenceria o governo brasileiro a comprar caças F-18 Super Hornet, foi embora decepcionada. “Os brasileiros dizem que falta confiança na relação com os EUA”, lamentou ela com seus assessores. O pior para a secretária de Estado foram as declarações de Amorim a respeito do apoio de Lula ao Irã. “Não podemos nos curvar. Temos de pensar com nossa própria cabeça”, bradou Amorim. Lula, por sua vez, afirmou que não se pode “emparedar o Irã”. A consequência mais imediata da posição do Brasil, segundo apurou ISTOÉ, será a suspensão “sine die” da visita do presidente Barack Obama, que deveria ocorrer no primeiro semestre.

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SEM DIPLOMACIA
Amorim: “Não podemos nos curvar”

“A viagem foi posta de lado”, garante um diplomata que participou do encontro entre Amorim e Hillary. Uma última tentativa de aproximação será feita na terça- feira 9, com a chegada do secretário de Comércio americano, Gary Locke. Mas também não deve frutificar, pois Amorim anunciou que a lista de produtos americanos sujeitos a represálias autorizadas pela OMC contra os subsídios dos EUA ao algodão será divulgada na véspera. A OMC autorizou o Brasil a retaliar em até US$ 830 milhões anuais os produtos  americanos e o governo trabalha numa lista de até 120 itens que sofrerão sobretaxa de importação. Sobre a possibilidade de uma contrarretaliação americana, Amorim abusou da ironia: “Desse susto eu não morro. Não posso imaginar que os EUA, que promoveram a criação do Acordo Geral de Tarifas e Comércio, da OMC, vão usar um instrumento fora das regras internacionais”, disse. Hillary demonstrou boa vontade: “Temos tempo para tentar resolver isso de maneira pacífica e produtiva.”

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Na opinião do professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, “os empresários de ambos os países têm mais a ganhar com a ampliação da pauta do que com a aplicação de sanções que tendem a alimentar um ciclo negativo.” Ele ressalta que a decisão favorável junto à OMC pode ser uma “moeda de troca” em outras negociações. Daí o esforço dos EUA numa agenda positiva que ajude a abrir o mercado brasileiro para as exportações americanas. Com a recente aprovação na Câmara de um acordo para a troca de informações tributárias, espera-se avançar nas negociações sobre o fim da dupla tributação. Mas nada disso vai avançar enquanto persistir o impasse diplomático sobre a questão nuclear iraniana. 

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