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O diretor sueco Ingmar Bergman costumava dizer que o teatro era sagrado e o cinema, “território de prostituição”. Nessas duas atividades ele trabalhou exaustivamente: dirigiu 170 peças e 50 filmes. Era, no entanto, nos sets de filmagem que Bergman mais se divertia. Foi neles também que criou obras-primas sem jamais se distanciar daquilo que, para ele, era a alma e a definição de seu ofício: contar histórias sobre pessoas e expressar as angústias e contradições humanas, sem resvalar no superficialismo. Na verdade, desse mal ele nunca padeceu – seus filmes são sempre assustadoramente densos. Entre os maiores clássicos estão Cenas de um casamento (1973), Gritos e sussurros (1973), O ovo da serpente (1978) e Morangos silvestres (1957). Bergman morreu no ano passado na Suécia, aos 89 anos, na ilha de Faro (onde vivia recluso desde que foi condenado pelo governo de seu país por sonegação de Imposto de Renda). Agora a sua carreira está sendo celebrada com a abertura de seus arquivos e um lançamento especial que reúne, em livro, 1.100 fotos (muitas exclusivas) e, em DVD, 110 minutos de filmagens e bastidores de outro grande clássico, Fanny e Alexander.

Há também entrevistas em que fala sobre a sua vida, suas famílias (foi casado cinco vezes e tinha nove filhos) e as suas maiores paixões – como já se disse, o teatro e o cinema. Todo o conjunto da obra que o homenageia, uma espécie de fotobiografia, chama-se Os arquivos de Ingmar Bergman (R$ 500 págs., US$ 200). É um projeto da editora sueca Max Ström Förlag em parceria com a alemã-americana Taschen e está sendo lançado simultaneamente na Suécia, Alemanha, França, Grã-Bretanha e nos EUA. Foi editada pelo jornalista britânico Paul Duncan e pelo fotógrafo sueco Bengt Wanselius, considerado por Bergman o melhor do mundo – esteve ao seu lado ao longo de duas décadas.

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O projeto também apresenta textos, anotações, entrevistas, roteiros, cadernos de trabalho e fotos do cineasta em sua trajetória artística de 60 anos – ele emendou um filme ao outro num ritmo frenético. Bergman criou um seleto grupo de fiéis atores que atuaram na maioria de suas produções e são também homenageados na publicação: entre eles Harriet Andersson, Erland Josephson, Max von Sydow, Ingrid Thulin, Liv Ullman, Gunnar Björnstrand. Indicado nove vezes ao Oscar, o cineasta ganhou a estatueta de melhor filme estrangeiro em três ocasiões, uma delas com Fanny e Alexander. Conquistou sete prêmios no Festival de Cannes e dois no Festival de Berlim. A fotobiografia traz imagens curiosas de bastidores, como a que mostra a simulação de um automóvel em movimento com um grande ventilador voltado para o rosto do motorista. A descontração de Bergman é flagrada nos cenários do set: em uma das fotos ele está deitado ao lado do ator Erland Josephson (intérprete do personagem Isak Jacob) na gravação de uma cena de Fanny e Alexander. Em outro momento ele abraça a sua então mulher, Liv Ullman, num intervalo das filmagens de A paixão de Ana. Venerado por especialistas e parte do público como um dos maiores gênios do cinema ou execrado devido ao hermetismo de seus filmes, o certo é que ninguém se mantém no meio-termo quando o assunto é a obra de Ingmar Bergman. Parte do material reunido em sua fotobiografia sugere que ele gostava de causar tais reações e sentimentos.

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FOTOS: ACCUSOFT INC.