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PILOTO
Mário Romancini, no sambódromo, local da prova: estrutura pronta foi decisiva

Para o paulistano, a marginal Tietê nunca foi sinônimo de velocidade. Na avenida, uma das principais portas de entrada da cidade de São Paulo, a velocidade limite indicada pela sinalização é de 90km/h, mas, durante a maior parte do tempo, o motorista que ali trafega mal chega à terceira marcha. Ao paulistano é comum passar horas congestionado entre a fumaça preta dos caminhões e o odor desagradável de um rio altamente poluído. Pois entre os dias 13 e 14 de março, para pelo menos 34 pessoas, isso vai mudar. Nesses dois dias, quando acontece a corrida São Paulo Indy 300, os bólidos da categoria americana Indy Series vão trafegar pela via a incríveis 310 km/h. Em um circuito de rua que passa não só por 1,5 km da marginal, mas também pelo sambódromo e pela avenida Olavo Fontoura, na zona norte, os 34 pilotos disputarão a primeira etapa do campeonato mundial da categoria. “Vai ser estranho passar por ali a mais de 300 km/h”, avalia Mário Romancini, paulistano de 22 anos, que já competiu na Fórmula Renault, na Indy Lights e estreia, em 2010, na Indy Series. Mas faz sentido fechar a marginal Tietê para um evento como esse? Não haveria melhor cartão- postal para divulgar São Paulo do que um rio imundo? “É sempre melhor e mais barato fazer uma corrida em autódromo”, diz Marcelo de Souza Bispo, coordenador do curso de gestão de turismo da Universidade Metodista de São Paulo.

“Mas fazê-la em Interlagos, por exemplo, não teria o mesmo impacto que a corrida em circuito de rua tem, e colocaria em risco a identidade da Indy, que poderia ser confundida com a Fórmula 1”, afirma ele. Há dez anos, São Paulo tenta sediar uma etapa da Indy. Quando a cidade finalmente conquistou a corrida, o prazo para desenvolver e construir o percurso foi inferior a quatro meses. “É menos da metade do tempo que esses eventos costumam levar para serem viabilizados”, diz Caio Luiz de Carvalho, presidente da São Paulo Turismo, que organiza a prova junto com a Rede Bandeirantes e a prefeitura. Talvez por isso o Parque Anhembi tenha sido a saída natural. Segundo Carvalho, são inúmeros os pontos positivos. No sambódromo, que integra o complexo, há camarotes e arquibancadas para 35 mil pessoas já montados. A uma distância que se percorre a pé em menos de cinco minutos existe um hotel com 780 quartos. O centro de convenções do parque pode fazer as vezes de sala de imprensa e a menos de 500 metros o Campo de Marte serve de área para pouso de helicópteros, além de oferecer um hospital completo que ficará de prontidão para emergências. Carvalho também minimiza os eventuais transtornos no trânsito que poderão se maximizar nos dias que antecedem o evento.

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Ele argumenta que a pista onde os bólidos acelerarão já está em obras desde o ano passado – com um breve hiato em função do Carnaval – e não por conta da Indy. O tráfego só será interrompido, de fato, por um período de quatro horas no sábado 13 e no domingo 14, dia da corrida. Para incrementar o circuito, no local do estacionamento do Anhembi estão sendo construídas duas curvas. Mesmo com os R$ 12 milhões desembolsados como patrocínio pela prefeitura – o resto dos custos, que somam cerca de R$ 36 milhões, será bancado por  empresas vinculadas ao esporte –, o saldo é positivo. Só no segmento de hospedagem, por exemplo, a taxa de ocupação dos hotéis salta de 45% para 65%. A expectativa é que o evento traga até R$ 120 milhões para a cidade, colocando a Indy atrás apenas da Parada Gay, que movimenta R$ 190 milhões, e da Fórmula 1, que lidera o ranking, com R$ 240 milhões de arrecadação. Até pouco tempo atrás, a Indy acontecia apenas em circuitos ovais, sendo o de Indianápolis, em Indiana, nos Estados Unidos, o mais famoso. Mas, para aumentar a emoção, começaram a entrar em cena as pistas sinuosas, que exigem pilotagem mais agressiva.

Em 2010, oito das 17 etapas serão nas tradicionais pistas ovais, contra nove em circuitos sinuosos, dos quais cinco são temporários, construídos mesclando trechos urbanos que, ao final da prova, voltam a servir à cidade. A forte tradição americana do esporte, porém, permanece. Apenas três etapas são disputadas fora dos Estados Unidos, o que faz a São Paulo Indy 300 ainda mais especial. “Com a prova, a cidade reforça a sua vocação para o turismo dos apaixonados por automóveis”, acredita Cristiano Vasques, sócio da HVS Consultoria em Turismo de São Paulo, lembrando que a cidade também sedia o Salão do Automóvel, além da F-1. É esperar para conferir.