i65831.jpgO vestido preto do francês Givenchy que a atriz Audrey Hepburn usa na mais famosa cena do filme Bonequinha de luxo (1961) é um clássico que quase 50 anos depois ainda inspira estilistas mundo afora. Feito em cetim e com um decote nas costas, se tornou símbolo de elegância e glamour. Sua marca no imaginário fashion é tão forte que em 2006 foi vendido por cerca de US$ 1 milhão para um anônimo em um leilão na Christie’s, em Londres – um recorde para uma roupa usada num filme. A indumentária, hoje histórica, está na seleção feita pelas escritoras britânicas Sarah Gristwood e Jane Eastoe, que acabam de lançar na Inglaterra um livro com os vestidos mais marcantes dos últimos 100 anos. Fabulous frocks (Vestidos fabulosos, em tradução literal) fala da contribuição das peças selecionadas para a história da moda. Neste período, as barras subiram dos calcanhares para as coxas, os decotes ficaram mais ousados e a roupa, de modo geral, tornouse mais sensual com tecidos mais leves, delineando o corpo da mulher. “Esse vestidos são ícones e serão lembrados para sempre”, diz Sarah.

O livro é dividido em seis capítulos temáticos, do clássico ao sensual. Criado por Coco Chanel em 1926, o pretinho básico enquadra-se no conceito de fabuloso: o vestido reto, simples e um pouco abaixo dos joelhos – cujo croqui foi publicado em maio daquele ano na edição americana da revista Vogue, a bíblia fashion até hoje – revolucionou a moda ao libertar as mulheres da ditadura do corpete e das saias amplas de babados. Inaugurou, assim, o estilo ao mesmo tempo elegante e casual. Isso porque a estilista francesa considerava o luxo não o oposto de pobreza, mas sim o antagonismo de vulgaridade. “O vestido fabuloso é aquele que cai bem, que valoriza os pontos fortes de cada mulher. Ele não precisa chegar antes de você”, concorda a consultora de moda Ana Maria Andreazza, sócia da consultoria carioca Fashion. Como Chanel, Yves Saint Laurent revolucionou a moda ao lançar, na sua primeira coleção para a Maison Dior, em 1958, o vestido trapézio, que, como o próprio nome sugere, tem ombro estreito e saia maior, evasê. É um clássico até hoje.

Passear por Fabulous frocks é como ir a uma festa do mais alto luxo. Lá está um autêntico modelo bordô da estilista britânica Vivienne Westwood, conhecida por sua irreverência, ousadia e até excentricidade. Show de glamour são os modelos assinados por John Galliano para a coleção primavera-verão 2008, de Christian Dior, inspirada na pintura simbolista. A sensualidade tem seu apogeu no vestido branco que parece voar quando a atriz Marilyn Monroe, no longa O pecado mora ao lado (1955), pára sobre um respirador de rua. O frente-única de saia plissada usado pela atriz foi criado pelo estilista americano William Travilla, queridinho de Marilyn. A cena tornou-se uma das mais famosas da história do cinema.

Outras peças eternizadas por celebridades foram lembradas no livro. O vestido que a princesa Diana usou em seu casamento com o príncipe Charles, em 1981, na Catedral de St. Paul, em Londres, é um deles. Feito por David e Elizabeth Emanuel (que após a morte de Lady Di, em 1997, publicaram um livro sobre o traje, de estilo romântico), influenciou noivas de todo o planeta. A top model britânica Twiggy também entrou para a história da moda ao popularizar nos anos 1960 o vestido curtinho, até hoje associado a seu nome, embora a criadora da minissaia seja a inglesa Mary Quant.

Se os curtos são fabulosos, os longos nem se fala. Tendência do próximo verão que já está nas ruas, eles não estão restritos a ocasiões formais. “As pessoas têm mania de achar que vestido comprido é coisa de festa, mas não é. Essa releitura dos longos é uma coisa bem típica da moda brasileira”, explica o estilista carioca Carlos Tufvesson. Para ele, o vestido é a peça mais democrática e também versátil do guarda-roupa feminino. Além disso, ressalta, é a roupa que mais facilmente transmite o estilo de cada pessoa. “A moda é especialmente generosa com as mulheres. Se quiser fazer uma linha mais romântica ou andrógina, é só mudar de roupa. Com os vestidos, então, é ainda mais fácil”, completa. Ou seja, ficar fabulosa é mais simples do que parece

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