Nas eleições de 2002, uma classe teve papel de destaque na campanha presidencial. Tornou-se histórica a foto de 400 artistas e intelectuais tirada ao lado de Lula e o bate-boca televisivo entre Paloma Duarte e Regina Duarte, uma a favor e utra contra o petista. O entusiasmo das estrelas não resistiu aos escândalos do mensalão e dos sanguessugas. A três meses de voltar às urnas, a categoria está calada. Ou melhor, escaldada. O cantor Zeca Pagodinho, que há quatro anos patrocinou um megachurrasco em sua casa, em Xerém (Baixada Fluminense), para apoiar Lula, agora recorre à ironia para falar de política: ?Campanha, só se for em cima de arroz quentinho, com azeite extra-virgem.? Do outro lado, o fogo também arrefeceu. Os tucanos terão vários desfalques artísticos, entre eles o de Beatriz Segall. ?Já fiz campanha para Alckmin, em São Paulo, e José Serra. Mas estou muito desanimada e não subo mais em palanques?, desabafa. Na última campanha presidencial, a maioria dos artistas estava ao lado do PT. Alguns até admitem votar em Lula, mas poucos querem compromisso com a militância, como é o caso de Chico Buarque e Camila Pitanga. ?Mesmo que Lula não tenha sido atingido, o caos na política é generalizado. Subir no palanque não faria sentido?, diz Camila. Procurados por ISTOÉ, famosos que em 2002 hipotecaram apoio ao petista nem sequer admitem falar de política. A outrora entusiástica Paloma Duarte alegou falta de tempo para tratar do assunto por causa das gravações da novela. As novas regras proíbem as apresentações de artistas nos palanques, remuneradas ou não. Quem quiser, porém, está livre para deitar falação em nome de seu escolhido. O difícil é encontrar quem queira associar a sua imagem a um candidato a presidente. O coro dos descontentes entre os tucanos é engrossado, além de Beatriz Segall, por nomes como Tônia Carrero: ?Nesse momento não está valendo a pena a gente se meter em política?, avalia Tônia. O desencanto que desmobiliza a classe não surpreende o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social. ?A falta de engajamento é resultado da frustração que o governo Lula provocou na classe?, diagnostica. Para Maria Tereza Monteiro, do Instituto de Pesquisa Retrato, ?Lula não explicou os escândalos nem Alckmin esclareceu sobre a crise de violência em São Paulo. Não há candidatura que mobilize.? Pelo jeito, a campanha vai viver de exceções. Fernanda Montenegro resolveu dar seu depoimento a favor de Jandira Feghali, candidata ao Senado pelo PCdoB-RJ. Já Paulo Betti admitiu: ?Se a campanha de Lula esquentar e eu me sentir motivado, entro.? Outro que mantém o entusiasmo é o ator Osmar Prado. ?Lula merece mais uma etapa.? Mas não faltam desencantados. Eleitor de Lula em 2002, Lázaro Ramos só decidirá o candidato às vésperas da eleição. ?O Brasil perdeu a inocência?, lamenta. Com a falta da retaguarda artística, brilhar na campanha só vai depender mesmo da luz própria dos candidatos.