No universo cinematográfico mundial, os documentários já alcançaram status de grandes sucessos de Hollywood. Produções como Fahrenheit 9/11, de Michael Moore, sobre os ataques às torres gêmeas em Nova York, ou Super size me, de Morgan Spurlock, sobre a alimentação fast-food, chegaram a faturar US$ 100 milhões em bilheteria nos EUA, o que os iguala a sucessos da ficção, como a animação Shrek. “Ninguém dorme mais assistindo a documentários”, diz Kátia Murgel, diretora de programação e produção dos canais Fox no Brasil, há uma década na tevê brasileira. Os canais, por sua vez, sempre ávidos por mais faturamento, também não dormem no ponto. Investem na diversificação dos assuntos e na modernização do formato, lançando mão do que há de mais moderno na tecnologia digital. Tudo para conquistar um número crescente de novos assinantes que vêm surgindo, efeito do crescimento econômico que, segundo estudo da Faculdade Getúlio Vargas, aumentou em 39% a participação de famílias das classes C e D nas tevês a cabo. A que mais cresceu, a National Geographic, especializada em documentários, teve aumento de 100% no número de assinantes em 2007, o que elevou em 30% o seu faturamento.

A aposta é diversificar os assuntos e desviar o foco de temas que já cansaram o telespectador, como mundo animal e natureza – ou pelo menos mudar a forma de abordá-los. Um exemplo é Vida no ventre, documentário que mostra a gestação de um bebê. É uma das produções mais caras do National Geographic até hoje (cerca de R$ 1 milhão) – as imagens são trabalhadas a partir do que é captado numa microcâmera inserida no útero de uma voluntária. Fez tanto sucesso que ganhou duas novas versões: uma é sobre a gestação de um mamífero e a outra aborda a gestação de bebês gêmeos e trigêmeos. Na linha natureza, mas com enfoque inovador, o canal produziu a bizarra história do biólogo inglês Shaun Ellis que, após se separar da esposa, decide morar com lobos selvagens. O seu esforço é filmado por 12 anos pelo produtor Bernard Walton em Vivendo com lobos. A atração teve grande audiência e ganhou reprises.

As reprises são, por sinal, motivo freqüente de críticas dos telespectadores. O canal The History Channel, da Time Warner, especializado em história, reúne um time de telespectadores fiéis que participa ativamente (e criticamente) da evolução de sua programação e eles se queixam do excesso de reprises. No ano passado, Diamantes de sangue e O passado de Hitler foram os documentários mais vistos nesse canal. A audiência do primeiro foi impulsionada pelo filme homônimo nos cinemas, estrelado por Leonardo DiCaprio. Mas, perto do realismo do documentário canadense, o filme de DiCaprio é um diamante cor-de-rosa.

O canal está exibindo atualmente Construindo um império: China, outro exemplar da série mais famosa de sua programação, que já contou a história de diversos “impérios”. No gênero documentário-diversão, deu certo a fórmula do programa Mega construções. Um dos filmes relata em detalhes como Hong Kong realizou o maior projeto civil da história da engenharia ao construir um aeroporto no mar. Virou febre e os episódios já existem em DVD.

Por enquanto, as produções das tevês a cabo são em sua maioria feitas no Exterior e raramente abordam temas nacionais. “Tevê a cabo tem de produzir filme brasileiro”, diz Leon Cakoff, diretor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Segundo a diretora de programação Kátia Murgel, o investimento nas atuais produções, extremamente bem-acabadas, é muito alto. “Mas já existem parcerias e o objetivo é ter cada vez mais conteúdo nacional”. diz ela.