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O rosto mais sereno, de olhos mais abertos e boca bem desenhada, resultado de uma cirurgia plástica a que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff , submeteu-se no final do ano passado em Porto Alegre, foi apresentado ao País pela primeira vez na segunda-feira 12. A mudança no visual é parte de uma estratégia bem planejada com um único propósito: o de conferir a Dilma um perfil menos sisudo e mais simpático e ser a embalagem que faltava para transformar a até então mera técnica competente no principal nome para disputar, como candidata do governo, a eleição presidencial em 2010. Para avaliar junto ao eleitorado a repercussão das mudanças estéticas da ministra, o Palácio do Planalto encomendou uma pesquisa qualitativa. Foi montado um grupo heterogêneo, de pessoas de diferentes classes sociais, para opinar sobre a nova Dilma Rousseff , que apareceu pela primeira vez em São Paulo, na abertura da Couromoda. Sem os antigos óculos de aros redondos, revelaram-se olhos menos pesados e mais abertos, depois de uma correção cirúrgica nas pálpebras. As antigas rugas que vincavam o rosto de Dilma desapareceram, e ela ganhou um novo nariz, levemente arrebitado. Os cabelos, outrora curtos e castanho-escuros, ganharam um tom avermelhado mais claro e uma ligeira franja que esconde parte da testa. O resultado final pode ser resumido em uma palavra: suavidade.

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O embrulho que hoje embala a ministra da Casa Civil é resultado de um processo ocorrido em etapas desde o final de 2007, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a ventilar a ideia de que Dilma poderia ser a sua sucessora. A menos de dois anos das eleições presidenciais, a equipe responsável pelas transformações de Dilma é formada por seis integrantes: o marqueteiro João Santana, o jornalista Laurez Cerqueira, a cabeleireira Tian, o ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, o cirurgião Sérgio Panizzon e o próprio presidente Lula, como conselheiro informal. Hoje, o principal nome é o marqueteiro João Santana. É ele quem está por trás da maior parte das mudanças experimentadas por Dilma. Santana começou a trabalhar a partir de uma orientação vinda do próprio Lula. É do presidente a percepção inicial de que a imagem de Dilma precisava ser suavizada. Foi ele quem primeiro disse isso a ela. E coube a Santana concretizar a ideia em termos práticos.

Lula partiu de sua própria experiência. Ele mesmo só conseguiu elegerse presidente depois que amenizou o seu aspecto de líder sindical raivoso. O candidato à Presidência em 1989 não se preocupava com a longa barba negra desgrenhada nem com os paletós mal cortados. Ria pouco e usava um tom de voz agressivo. A construção do personagem “Lulinha Paz e Amor” em 2002 não se limitou à adoção de um discurso menos radical e a mais sorrisos. Levou em conta aparar a barba, adotar um corte de cabelo mais moderno e começar a usar ternos feitos por estilistas como Ricardo Almeida. É esse o processo que agora busca transformar “Dilmão” – o apelido que a ministra da Casa Civil tem no governo – em “Dilminha”.

Logo na primeira vez que Lula falou a Dilma sobre a hipótese de torná-la candidata à Presidência, ainda em 2007, ele mencionou a necessidade de ela amenizar a sua imagem. “Dilma, você precisa perder essa cara de escritório”, aconselhou. Pessoalmente, Dilma não é das pessoas pessoas mais vaidosas. E, até então, ela não tinha precisado vincular sua carreira às subjetividades que atraem ou não a simpatia do eleitorado. Como técnica, ministra, bastava a ela ser competente no que fazia. Coube a Santana começar a eliminar concretamente a “cara de escritório” de Dilma. O processo deuse em etapas pela própria resistência de Dilma em admitir as mudanças. E, na verdade, iniciou- se mais por uma questão de saúde do que propriamente por uma preocupação estética ou política. Em outubro de 2007, Dilma teve uma diverticulite, uma inflamação no intestino. Viu-se obrigada a fazer uma dieta cortando alimentos gordurosos e condimentados. Juntou-se, então, a necessidade ao projeto político: como precisava fazer a dieta, aceitou emagrecer. Passou a se submeter também a aulas de Pilates e virou o ano de 2008 com 12 quilos a menos.

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O segundo passo na transformação foi aceitar trocar os terninhos escuros que usava, geralmente marrons, por outros de tons mais claros e leves, estampados, com temas floridos. Santana também é o responsável pelos conselhos que produziram essa mudança. Ultimamente, somou-se a Santana como consultor para a imagem de Dilma o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. Com a experiência que adquiriu durante anos como repórter e comentarista político na televisão, Franklin costuma dizer a Dilma o que fica melhor no vídeo e dar dicas sobre a sua postura e modo de falar.

Quanto ao discurso, desde meados do ano passado, Dilma incorporou à sua equipe o escritor e jornalista Laurez Cerqueira. Ele é encarregado de tornar mais palatáveis os discursos de Dilma. Antes, era ela mesma quem os escrevia. Eram muito técnicos e cheios de números. Dilma usava sempre o PowerPoint, o programa de computador utilizado em palestras, quase como uma muleta. Lula pessoalmente detesta esse recurso. Acha que torna tudo enfadonho e com cara de reunião de executivos. Cerqueira desidratou os discursos de números e dados técnicos e politizou-os.

De todas as mudanças estéticas vividas por Dilma, a única que partiu exclusivamente dela foi tirar os óculos. Usar lentes de contato era algo que a ministra já tinha tentado. Na verdade, ela chegou a se submeter a uma cirurgia para tentar corrigir a sua miopia nos anos 80, nos primórdios desse tratamento. A cirurgia não corrigiu totalmente o problema e ainda provocou uma deformação na curvatura da córnea de Dilma. Com isso, ela não se adaptava a lentes de contato. Somente agora, com uma geração de lentes mais modernas, pôde livrar-se dos óculos. Ocorre, porém, que a retirada dos óculos trouxe a Dilma um ar mais cansado, resultado das pálpebras meio caídas que ela tinha. Foi a partir daí que a ministra começou a amadurecer a ideia de se submeter a uma plástica aos 61 anos.

Assim, no final de dezembro, ela entrou discretamente na clínica Moinhos de Vento Plastic Center, em Porto Alegre, e submeteu-se ao bisturi da equipe do cirurgião Sérgio Panizzon. “A ministra ficou muito bem”, orgulha-se Panizzon. Depois da cirurgia, surgiram informações de que ela teria se submetido a uma técnica nova e polêmica, a bioplastia, que provoca alterações estéticas sem corte cirúrgico, a partir da injeção de uma substância semelhante ao silicone, o polimetilmetacrilato, ou PMMA. “Não foi bioplastia”, garante Panizzon. Dilma sofreu pequenas intervenções cirúrgicas, que os especialistas chamam de “lifting”. Suas pálpebras foram reduzidas, o que aumentou seus olhos e tornou-os menos pesados. O nariz foi afilado e foram retiradas marcas de rugas na região entre o nariz e os lábios. “Por uma questão de ética médica, não posso dar detalhes da cirurgia. Só posso dizer que o resultado ficou muito satisfatório e me orgulha bastante”, diz o médico. O doutor Ivo Pitanguy, um dos maiores cirurgiões plásticos do mundo, também aprovou as mudanças feitas no visual de Dilma. “Todo mundo gosta de estar bem com sua imagem. No caso dela, deu mais força e determinação”, disse. Dilma não inova. O médico brasileiro lembrou que o cardeal Richelieu (1585- 1642) puxava os cabelos para trás numa tentativa de demonstrar mais força. “Foi uma maneira de mostrar um rosto mais determinado”.

Como última etapa da embalagem, os cabelos. A cabeleireira Tian, do Salão Metamorphose, é a responsável. Tian corta os cabelos de Dilma desde que ela se mudou para Brasília. Já havia sugerido várias vezes a ela que clareasse a cor dos cabelos. Dilma cedeu: abandonou o castanhoescuro e passou a usar um tom mais avermelhado. Foi também Tian que criou a pequena franja que Dilma passou a usar, diminuindo o tamanho da sua testa.

Ainda que tenha melhorado nas últimas pesquisas, Dilma ainda não decolou. O governador José Serra tem uma ampla vantagem e mesmo Aécio Neves ganha dela com folga nas pesquisas. O novo perfil da ministra ainda precisa ser trabalhado. E também não se deve esquecer que aparência sozinha nem sempre ganha eleição.

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