Há certas coisas que só acontecem no Brasil. Uma delas é o Estado financiar, com o dinheiro dos contribuintes, organizações que invadem fazendas, depredam prédios públicos, ocupam grandes empresas e destroem laboratórios de pesquisa no campo. Duas delas, o MST e a Via Campesina, são lideradas pelo gaúcho João Pedro Stédile, que, na semana passada, ganhou mais um troféu. Segundo o Ibama, dos 100 maiores desmatadores nacionais, os seis primeiros são assentamentos rurais do Incra, parceiro do MST no governo. Sendo verdadeira a lista, Stédile mereceria o título de “motosserra de ouro”, que tradicionalmente é concedido pelo Greenpeace aos principais ruralistas nacionais.
Ainda que o trabalho do Ibama contenha exageros, é mais uma prova da falência da reforma agrária no Brasil. Nos últimos 20 anos, o Brasil já gastou mais de R$ 50 bilhões para assentar 900 mil famílias numa área estimada de 40 milhões de hectares – superior ao território da Itália. Apesar de toda essa drenagem financeira, jamais se apresentou um balanço consistente sobre o que esses assentamentos produzem. Em muitos casos, as famílias flutuam de uma invasão a outra, vivem em barracas de lona, matam o gado e nem sequer chegam a plantar – alimentam-se de cestas básicas concedidas pelo próprio governo. Há também exemplos de assentamentos cujas terras foram revendidas ou arrendadas para produtores tradicionais. Na Amazônia, como não há fiscalização, corta-se madeira muito acima do limite de 20% permitido pela lei e boa parte da receita dos assentados vem do comércio ilegal das toras.
O mais grave é o fato de o MST nem sequer possuir existência jurídica. Embora seja um exército, que conta com sua própria universidade e vários centros de treinamento, a entidade não tem CNPJ. Por isso, seus líderes são pessoas quase inimputáveis, acima do bem e do mal. Só recentemente um grupo de promotores do Rio Grande do Sul conseguiu fazer com que representantes do MST fossem citados num processo penal. Eles reagiram denunciando à ONU a “tentativa de criminalização dos movimentos sociais”. Lá fora, a questão agrária no Brasil ainda é vista de forma maniqueísta. De um lado, os vilões do agronegócio; de outro, os heróis camponeses. Mas, a julgar pelas imagens dos satélites na Amazônia, as motosserras do MST têm trabalhado bem mais do que as dos produtores. No Brasil, a utopia virou negócio


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