Pai de duas meninas, o cineasta americano de origem indiana M. Night Shyamalan tem o hábito de fazê-las dormir contando histórias. Em uma noite inspirada, ele foi puxando de sua cabeça o fio de uma narrativa bastante original. “Vocês sabiam que tem alguém que mora embaixo da nossa piscina?”, perguntou às filhas. Na seqüência, essa criatura aquática recebeu o nome de Story (história) e ganhou um sentido: tratava-se de uma darf, espécie de ninfa proveniente das profundezas do oceano, o Mundo Azul, e que saiu das águas para ajudar os humanos a solucionarem os seus impasses. A cada dia, o cineasta Shyamalan, autor de O sexto sentido e A vila, ia deixando a sua imaginação viajar, acrescentando novos detalhes a esse enredo. Ao final de algumas semanas, uma fantasiosa e excelente história havia se formado. Transformada em filme, é justamente essa bela fábula que agora pode ser vista nas telas em A dama na água, em cartaz nacional a partir da sexta-feira 1º de setembro.

Assim, o bem-humorado Shyamalan, injustamente arrasado pela crítica americana e inglesa, aposta mais uma vez na capacidade do cinema de contar histórias completamente não plausíveis – ou se embarca em sua fantasia ou se abandona a sala. Melhor a primeira opção. Ótimo narrador, o diretor solta a ninfa Story (Bryce Dallas Howard) em um condomínio classe B da Filadélfia, habitado por uma fauna tão incrível quanto a das águas abissais de que veio. Cleveland Heep (Paul Giamatti, ótimo) é o zelador gago que mora em uma casa cercada por um jardim mal cuidado mas que faz as vezes das florestas de contos de fada. É ele quem descobre a criatura e começa a decifrar o seu mundo por intermédio de uma anciã coreana que vive com a filha universitária. Nos apartamentos do prédio mora também um grupo de rapazes que fumam maconha sem parar, um escritor indiano (interpretado pelo próprio Shyamalan), um negro viciado em palavras cruzadas cujo filho inventa histórias a partir de caixas de sucrilhos, um crítico de cinema pretensioso… e por aí vai. Todos se unem para que Story seja levada para o seu mundo e se livre das garras de Scrunt, espécie de hiena de pêlo venenoso encarregada de exterminá-la. Quanto ao crítico de cinema, melhor nem dizer o que o filme lhe reserva.