O que mais chama a atenção em Elisa Lucinda são os olhos verdes em incrível contraste com a pele morena. Quando ela ri, a harmonia é total: beleza pura. Mas a estética é o último trunfo dessa capixaba de 48 anos que vive no Rio de Janeiro há quase duas décadas. Seu primeiro mérito é o talento como poeta, atriz e cantora. Ela é a única figura em cena na peça Parem de falar mal da rotina (que já foi vista por mais de 150 mil pessoas, um marco no teatro brasileiro), interpreta a personagem Selma na novela Páginas da vida e faz uma mãe no filme Eu prefiro a maré, de Lúcia Murat, que está sendo rodado. Juntamente com tudo isso, ela está lançando o livro de poesia A fúria da beleza (editora Record) e prepara um CD em parceria com Marcos Lima. Mais Elisa Lucinda ainda: estréia também como diretora do espetáculo Da chegada do amor, baseado em seus poemas e com elenco oriundo da escola Poesia Viva, que ela criou e mantém há sete anos. Há quem prefira chamá-la de gata – mas o mais correto seria dizer que Elisa tem, isso sim, fôlego de gato.

A sua casa, no bairro da Lagoa, parece um spa. É ali, rodeada pelo jardim, com sauna, muito espaço e uma relaxante e deslumbrante vista que ela se recupera do ritmo pauleira de sua vida profissional. “Uso os percursos, quer esteja em um táxi ou em um avião, para produzir. Estudo no banheiro e na hora de dormir, não tenho hora para fazer as coisas nem disciplina. É dedicação integral”, diz ela. Elisa fica exausta, mas sem exaustão: “Não vivo cansada porque tudo é feito com muito prazer.” Até novela? “Adoro. E não acho que seja uma arte menor, é um exercício de concentração e agilidade.” A sua atividade central, no entanto, tem sido a poesia. Já publicou dez livros e seu poema mais conhecido, chamado Só de sacanagem, ganhou fama porque foi declamado por Ana Carolina no show com Seu Jorge e está no disco gravado ao vivo dessa dupla. Nele, Elisa fala: “Dirão: deixa de ser boba, desde Cabral, aqui todo mundo rouba. E eu vou dizer: Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo de nosso freguês.” O texto foi escrito após os escândalos políticos que abalaram o País no ano passado. “Acho que ele convoca pela simplicidade da honestidade”, diz a autora. O mesmo acontece na peça Parem de falar mal da rotina, escrita por ela, um sucesso que já percorreu diversas cidades e está de volta ao Rio de Janeiro. “Arte é para cutucar. As pessoas riem delas mesmas, mas saem dali querendo melhorar a vida.”