José Valien Royo, que ficou “íntimo” dos brasileiros como o baixinho da Kaiser, está de volta à tevê, enchendo seu bigode farto com a espuma da cerveja. O ator Carlos Moreno também retornou, usando ar nonsense para vender as esponjas de aço da Bombril. O mordomo Alfredo, o da bandeja com um rolo de papel higiênico Neve, retomou seu posto com a mesma disposição para atender o primeiro que gritar pelo seu nome. No mercado editorial, a sensação é um livro que conta a história do Fusca, a genial invenção de Ferdinand Porsche que virou sinônimo de carro brasileiro dos anos 60 aos 80. O almanaque já vendeu 15 mil exemplares. Por todos os lados, na indústria, no comércio, nas artes e na publicidade, é clara a força da onda revival, um impulso quase incontrolável de ressuscitar ícones do passado recente.

A Ediouro, por exemplo, responsável pelos famosos almanaques dos anos 70 e 80, resolveu apostar na sede dos nostálgicos. E avisa: vão sair os almanaques da Jovem Guarda (de Ricardo Puglialli), dos Anos 50 (Sérgio Augusto) e dos Anos 90 (Sílvio Essinger). A justificativa da editora para tanto saudosismo é simples: o interesse pela temática está cada vez mais alto.

Para o psicólogo Ari Rehfeld, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, revivals ocorrem periodicamente. “Talvez daqui a 15 anos a gente viva outra onda”, acredita. De acordo com ele, isso acontece com freqüência porque a sociedade e a cultura alternam momentos de riqueza com fases de calmaria, falta de produção e mediocridade. Nós estaríamos no meio desse processo. Prova disso é que para muitos jovens de 18 anos o bom mesmo é curtir o som de medalhões como os Rolling Stones e Chico Buarque. “As bandas de hoje surgem rapidamente, mas somem com a mesma velocidade. E o que era antigo passa a ser visto como revolucionário para quem não viveu aqueles anos”, completa.

O saudosismo bateu à porta também na publicidade. De acordo com pesquisas da Femsa, a dona da marca Kaiser, o baixinho é o segundo personagem mais lembrado da propaganda brasileira, atrás apenas de Moreno, da Bombril. “Ele ainda é muito apreciado e sua imagem remete a percepções positivas a uma grande parcela do público”, constata Riccardo Morici, diretor de marketing da companhia.

O problema é a possibilidade de cansar as pessoas. É um temor até de quem trabalha na publicidade. Para Márcio Oliveira, vice-presidente de operações da agência Lew,Lara, o recurso só traz bons resultados se apresentar algo novo. Para ele, retomar um ícone antigo tem seus riscos. Pode dar a impressão de que não há mais nada a acrescentar e que a criatividade acabou. Na moda e nas artes, opina Oliveira, a história é diferente. “A onda retrô, nestes casos, faz uma releitura estética. As pessoas se inspiram no passado para criar um design ou um estilo, inclusive nos veículos, como o PT Cruiser, da Chrysler, que tem linhas inspiradas nos carros de gângsteres”, explica. E quanto aos almanaques? “Se não fosse bom rever outros tempos, ninguém teria álbum de fotos”. Faz sentido.

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