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SEM VOLTA
P. O., ao sair de reunião com o novo governador interino

Brasília continua a viver sua tragédia política. Na terça-feira 23, o governador em exercício, Paulo Octávio, conhecido como P.O., renunciou depois de 12 dias de interinidade. Agora, as atenções se voltam para José Roberto Arruda, preso na sede da Polícia Federal. Ele vai sacrificar o mandato? Sua defesa está oferecendo a renúncia em troca da liberdade e também para escapar do processo de impeachment. Alvo da mesma investigação que levou Arruda à prisão, P.O. não perdeu tanto tempo. Depois de um churrasco no sábado 20 que atraiu  apenas cinco dos 30 deputados distritais, sentiu-se isolado e decidiu sair de cena. “A batalha está perdida”, disse a P.O. dona Wilma Pereira, a matriarca da família, acostumada a ver a casa cheia de políticos de diferentes matizes. No mesmo dia, ele redigiu a nova carta de renúncia e culpou o DEM por ter lhe abandonado. “Não é possível governar sangrando em praça pública”, escreveu. Em outra carta, P.O. pediu a desfiliação do partido, ciente de que sua expulsão era certa. “Saio da política para retornar às fileiras da cidadania”, disse, numa versão enviezada da despedida de Getúlio Vargas. Definitivamente, P.O. não entrará para a história.

“Não é possível governar sangrando em praça pública”
Paulo Octávio, ex-governador em exercício

Com a saída de cena de P.O., a capital federal caiu agora nas mãos do deputado Wilson Lima (PR). Político de pouca expressão, Lima foi eleito presidente da Câmara Legislativa em janeiro, num acordo da base aliada, após a renúncia de Leonardo Prudente – o deputado que foi flagrado escondendo dinheiro nas meias. Antes de entrar para a vida pública, Lima foi mecânico, frentista e vendedor de picolé. Católico fervoroso, o novo governador deve  enfrentar uma via-crúcis para conseguir a desejada sustentabilidade. “Não vamos fazer acordo. A Câmara não será mais um ‘puxadinho’ do Buritinga”, garante o deputado Cabo Patrício (PT), que substituiu Lima no comando do Legislativo local. Para Patrício, a única forma de evitar a intervenção federal “é o novo governador mostrar que não é conivente com a corrupção da gestão anterior”. Embora não esteja sendo investigado pela Operação Caixa de Pandora, o novo governador é alvo de ação do MP por improbidade administrativa. O MP questiona a criação ilegal de cargos de confiança quando Lima era responsável pela área de pessoal da Câmara, em 2008. Ao assumir o cargo, Lima defendeu medidas moralizadoras para evitar a intervenção federal. Além de afastar dois secretários citados em gravações da PF, ele suspendeu os contratos com empresas envolvidas no esquema de propinas. As medidas, no entanto, não sensibilizaram o procurador-geral Roberto Gurgel.

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O ATUAL
Interino, Wilson Lima quer evitar intervenção no Distrito Federal

“A rigor, não muda nada. Como eu tenho repetido, o pedido de intervenção se fundamenta numa falência generalizada das instituições do Distrito Federal, especialmente do Executivo e do Legislativo”, diz Gurgel. O pedido está na mesa do presidente do STF, Gilmar Mendes, que tem mantido consultas com parlamentares e ministros, e ainda aguarda a manifestação da Câmara Legislativa para redigir seu voto, o que só deve ocorrer no final de março, segundo fontes do tribunal. No Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguarda o desenrolar dos fatos. Na PF, Arruda amarga mais uma semana preso, depois que seus advogados pediram ao ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que adiasse a votação do habeas corpus, numa tentativa derradeira de reforçar sua defesa. Resta saber se existe argumento capaz de livrar Arruda da prisão.