Imagine um país em que suas empresas privadas tenham comprado, nos últimos dois anos, um total de 100 bilhões de euros para adquirir ações de empresas européias. Imagine mais: um país em que os imigrantes são bem-vindos e, ainda, apontados como parcialmente responsáveis pelo crescimento econômico. Ou um país no qual as grandes companhias estão cruzando suas fronteiras para adquirir empresas inteiras em territórios dez anos antes considerados insuperavelmente mais ricos. Isso porque, nos últimos 12 anos, o antigo país que era pobre passou a crescer, ano a ano, a taxas médias superiores às de todo continente à sua volta. Quem imaginou a quente, vibrante e, hoje em dia, absolutamente rica Espanha acertou em cheio.

A dimensão desse renascimento econômico fica muito clara quando se nota a agressividade do avanço das empresas de capital espanhol no poderoso mercado europeu. Na metade deste mês, por exemplo, o grupo espanhol Ferrovial pagou 10,1 bilhões de libras para tomar o controle da inglesa BBA, maior controladora de aeroportos do mundo. Em março, a também espanhola Roca pagou 50 milhões de euros por metade da indiana Parryware Glamourooms e se tornou a número 1 em louças de banheiro no planeta. Já foi anunciado, pela igualmente espanhola Abertis Infraestructuras, a compra em abril do ano que vem da italiana Autostrade, por 12 bilhões de euros. A idéia, neste caso, é formar a maior companhia controladora de pedágios do mundo.

Dentro do país, neste final de verão europeu, por onde se olhe e passe é fácil ver o progresso. Divulgado no dia 15 deste mês, o crescimento do PIB espanhol no segundo trimestre de 2006 atingiu 3,6%, a melhor marca desde o final de 2001. Nas previsões da prestigiosa revista The Economist, o crescimento econômico da Espanha para este ano só será menor do que o dos EUA. Em relação à zona do euro, os espanhóis deverão experimentar um incremento econômico quase três vezes maior. “Acho que ninguém previa isso”, reconhece Mauro Guillen, autor de um livro sobre a expansão das multinacionais espanholas.

Tal crescimento tem reflexos até na relação da Espanha com os imigrantes – tema espinhoso em qualquer país europeu. Na região da Catalunha, por exemplo, o chamado choque migratório é considerado positivo para a economia. Os que têm procurado a Espanha para viver desembarcam dispostos a comprar imóveis e abrir negócios. Estima-se que esse fenômeno seja responsável pela construção, no biênio 2006-2007, de 90 mil novos apartamentos, com a abertura, em razão desse e de outros fatores, de 130 mil empregos. E, para incentivar o desenvolvimento econômico da juventude, a Generalitat (governo local da Catalunha) separou 42 milhões de euros para pessoas entre 18 e 35 anos, para que comprem a juros baixos uma casa própria ou usem os recursos para abrir seu primeiro negócio.

Com tamanha e já tão longeva fase de crescimento, provada nos 12 últimos anos de taxas de PIB maiores do que os da eurolândia, muitos se perguntam quando a Espanha vai parar. Pode perder quem apostar numa freada brusca, principalmente porque as famílias espanholas, incentivadas a fazer poupanças pela compra de ações das companhias nacionais, estão líquidas e solventes. É o chamado crescimento sustentado. Com a economia a pleno – e crescendo –, o primeiro-ministro espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, pode se dar ao luxo de fazer política com altivez. Um dia após os primeiros bombardeios de Israel sobre o Líbano, ele apareceu na televisão usando um kafieh, em flagrante solidariedade ao país agredido. Os agentes econômicos, sempre voláteis nessas horas, nem ligaram. Afinal, na Espanha todos estão fazendo o que mais gostam: ganhando dinheiro, por supuesto.