Na visão de José Celso Martinez Corrêa,
a função do teatro é “derrubar os tabus e deixar a barbárie falar”. No sábado 30, estréia no Teatro Oficina a montagem de
A luta
– terceira e última parte de Os sertões, clássico literário de Euclides
da Cunha adaptado por Zé Celso – com
o objetivo de tratar de um tabu no palco: a violência com que o Exército massacrou a população de Canudos, no interior da Bahia, em 1897. “O papa pediu perdão pelos crimes da Igreja. O Exército deveria fazer o mesmo”, acredita o dramaturgo.

Desde 2002, Zé Celso respira os ares de Canudos e seu líder, Antônio Conselheiro. “Sou muito parecido com ele. O deus dele era o deus cristão e o meu é Dionísio”, compara, com a ironia habitual. É na obra de Euclides da Cunha que o diretor encontra as respostas para muitos dos dilemas atuais. “Canudos é uma maquete da guerra que vivemos hoje, que é o terrorismo. Os povos bárbaros se insurgindo contra o rei republicano Bush”, compara.

O deboche e as opiniões polêmicas de Zé Celso estão ganhando o mundo. Além de estar próximo da conclusão de Os sertões, que já teve as duas primeiras partes (A terra e O homem) encenadas na Alemanha, prepara-se para a turnê russa da peça Boca de ouro, de Nelson Rodrigues, em julho. Nas comemorações do ano do Brasil na França, foi homenageado pela montagem de O rei da vela, de Oswald de Andrade. Aguarda entusiasmado o lançamento em DVD de outras quatro peças que dirigiu: Boca de ouro, Cacilda!, Bacantes e Ham-Let, que será distribuído pela Trama. “A censura estagnou o teatro no Brasil por muitos anos. Tenho um grande nome, mas levo uma vida modesta. Não que eu tenha optado pelo franciscanismo, mas ele me foi imposto”, reflete. Tal qual os sertanejos de Canudos, Zé Celso quer ser, antes de tudo, um forte.