Poucos se lembram, mas o cantor e guitarrista George Benson lançou o seu disco The other side of Abbey Road em 1969, ao mesmo tempo que os Beatles lançaram Abbey Road. “Na verdade, eu saí com meu álbum uns meses mais tarde”, brinca Benson, que atendeu ISTOÉ por telefone, de Los Angeles, na companhia da mulher e com celulares tocando sem parar. A ilusão se deu porque no mundo pré-globalizado os lançamentos não eram sincronizados. Até o disco inglês chegar aos Estados Unidos, deu tempo para o produtor e arranjador Don Sebesky repetir com capricho o que já havia feito com o legendário Wes Montgomery, The boss guitar (o “chefão”da guitarra), falecido no ano anterior. Montgomery havia gravado A day in the life. Assim, meio sem querer, Benson estava se tornando The new boss guitar.

George Benson, um negro de 62 anos, natural de Pittsburgh, “uma cidade dura”, segundo ele, se apresenta no Brasil pela terceira vez depois do Rock in Rio 1 (1985) e do Free Jazz Festival (1989). Desta vez, resolveu percorrer o País estreando em Belo Horizonte na quarta-feira 20 e passando por Belém, 23, Brasília, 27, Recife, 29, Fortaleza, 30, São Paulo, dias 3 e 4 de maio, Curitiba, 5, e despedindo-se no Rio de Janeiro no dia 6 de maio. O Benson que o grande público conhece nasceu em 1975 com o lançamento do álbum Breezin’, que trazia This masquerade, de Leon Russell, e daria início a uma série interminável de sucessos que o levaram a ser classificado de “easy listening”. Seu último álbum, Irreplaceable, de 2003, por exemplo, é puro romantismo. Mas Benson avisa que não é nada fácil. Finalmente ele se dobrou aos fãs e promete um disco instrumental, com solos inclusive, devendo entrar em estúdio no próximo mês.

Assim, ao lado de grandes sucessos como On Broadway e Give me the night, os fãs brasileiros terão o privilégio de assistir a uma amostra d novo Benson, do novo um “boss” da guitarra. Sua banda, dirigida por David Witham, traz Thom Hall nos teclados, Land Richards, bateria, Stanley Banks, baixo. Benson deu destaque ao guitarrista Michael O’Neill, que esteve com ele no Rock in Rio 1 e também, como se recorda com carinho, “naquele estacionamento com milhares de pessoas, uma tarde inesquecível”, referindo-se à sua apresentação gratuita no pátio do Shopping Eldorado, em São Paulo. Fala também com orgulho da percussionista Kenya Hathaway, filha do cantor e compositor Donny Hathaway, companheiro de Curtis Mayfield e Aretha Franklin, cujos duetos com Roberta Flack, entre outros Where is the love e The closer I get to you, marcaram época. Donny se suicidou em 1979 e George Benson considera uma honra tocar ao lado da filha do amigo. O guitarrista promete um show “para se assistir de joelhos”, como se costuma dizer.