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O estilista americano Tom Ford inscreveu o seu nome no mundo da moda ao assumir todo o departamento de criação das marcas Gucci e Yves Saint-Laurent. Chegou a assinar 16 coleções por ano e ganhou fama de profissional vaidoso e hipercentralizador. À frente da Gucci, por exemplo, que tirou da falência e colocou como uma das empresas mais rentáveis da alta-costura, assinava não apenas as coleções masculina e feminina como também os calçados, a linha de cama e de perfumes. Deixava o seu toque também nos anúncios e no design das lojas e, galã como é, aproveitava também para posar de modelo. Trabalhava 18 horas por dia. Não está sendo diferente em sua estreia no cinema com “Direito de Amar”, que chega às telas do País na sexta-feira 5. Ford assina o roteiro, a produção e a direção do filme, baseado em um romance do escritor inglês Christopher Isherwood. Diante de tanto controle e perfeccionismo, era natural que ele assinasse também os figurinos desse drama chique, passado na Los Angeles dos anos 60 e que tem como protagonista um professor inglês de literatura em tudo sofisticado. Mas Ford deixou a tarefa nas mãos da figurinista Arianne Philips, que cuida do visual das turnês de Madonna. Uma decisão estratégica. Ao se manter longe das tesouras e dos tecidos, ele pôde centrar-se no mais difícil de sua nova atividade, que é dirigir atores.

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ACABAMENTO
Colin Firth, que concorre ao Oscar, e Julianne Moore são os protagonistas da história

E, mais uma vez, Tom Ford saiu-se bem: Colin Firth, que interpreta o protagonista da história, foi duas vezes premiado e é forte concorrente no próximo Oscar. Para escapar do assédio da imprensa, o cineasta Fernando Meirelles costuma fazer o check-in dizendo ser arquiteto, sua profissão antes de virar diretor de filmes e de publicidade. Para Tom Ford esse expediente não funcionaria: ele continua a ser um nome forte como estilista e já começou por cima em Hollywood. Não que o seu nome abrisse portas. Ao anunciar que faria um filme, após pedir demissão da Gucci em 2004 (a maison teve os lucros multiplicados por dez vezes sob suas  rédeas), ele não foi levado a sério. Afinal, não tinha nenhuma experiência na área. Havia apenas repaginado o visual do agente secreto 007 em “Quantum of Solace” e aparecido “como ele próprio” em “Zoolander” e séries de tevê. No lançamento do filme nos EUA, Ford despiu-se da pose de todo-poderoso e confessou que aprendeu a dirigir lendo um manual do autor  de teatro e diretor de filmes David Mamet. Ao mostrar o roteiro a um produtor tarimbado, foi aconselhado a buscar ajuda de um profissional do ramo.

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CONTROLE
Tom Ford dirige uma cena usando colete e abotoadura: cuidado com todos os detalhes

Não gostou do resultado e reescreveu a história 15 vezes – e isso em dois anos. As filmagens foram mais rápidas: 21 dias, coisa para experientes. O enredo do filme é outra surpresa vindo de um estilista, profissional que a maioria das pessoas imagina viver de festas, champanhe e frivolidades. A história acompanha o dia do professor de literatura George Falconer, um elegante e irônico cinquentão que  pensa em se matar ao perder o namorado em um acidente de carro. Ford nunca fez questão de esconder que é homossexual. Mesmo assim, afirma que as pessoas mais próximas ficaram chocadas com a trama. “Um amigo falou que sempre me imaginou como uma caixa preta laqueada, sem nada no interior”, disse numa entrevista ao jornal “The New York Times”.

Tom Ford investiu US$ 7 milhões do próprio bolso para fazer “Direito de Amar”

Ele afirma que só agora, aos 48 anos e como cineasta, está conseguindo se expressar: “Não se coloca alma numa calça”, ironizou. Como bom inglês, o professor George veste ternos feitos em Saville Row, a rua londrina dos alfaiates mais caros do mundo, no bairro de Mayfair. Parecem aqueles  paletós e calças bem cortados das coleções do estilista. Está aí a justificativa para Tom Ford não ter assinado os figurinos de seu filme.