AJUDA Claudemir auxilia Thais nas matérias de exatas

Novembro é sinônimo de angústia e ansiedade para as escolas. É neste mês de provas finais que a tensão toma conta dos alunos com notas baixas. Fora da sala de aula, são os pais, desesperados com a possibilidade da reprovação dos filhos, que correm atrás do professor para tentar livrá-los da degola. Pedagogos e educadores são unânimes em repetir que não são santos milagreiros de última hora. Insistem que o sucesso da aprendizagem depende do trabalho em conjunto entre os quatro agentes principais da educação (escola, aluno, professor e família) durante o ano. Em ocasiões especiais, porém, há saídas para melhorar o desempenho da criança.

Em Brasília, o casal de publicitários Claudemir e Márcia Chini passa o ano fiscalizando o desempenho escolar dos filhos, Júlio, de 18 anos, Thais, 12, Marina, 11, e Júlia, 9. Claudemir é encarregado de supervisionar as matérias de exatas e Márcia, humanas e artes. Este ano, Thais, que cursa a 6ª série do ensino fundamental em uma escola pública da capital federal, chegou na reta final do ano letivo precisando de nota sete em matemática, matéria pela qual ela tem antipatia.

KARIME XAVIER/AG. ISTOÉ

ROTINA NOVA Maura passou a regular os horários de televisão, videogame e computador de Romeu

Claudemir, sabendo da dificuldade da filha, passou o ano revisando tarefas escolares e refazendo exercícios passo a passo ao lado de Thais, toda noite, depois que ela chegava do colégio. “Estou olhando cadernos, livros para ver como ela poderá se sair. Se eu vir que não tenho condições de ajudar, vou contratar um professor particular”, diz o publicitário.

Aulas de reforço na própria escola ou professores particulares podem ser úteis em casos emergenciais como o de Thais, que presta atenção na aula, faz o dever de casa, mas chegou à prova final sem conseguir digerir a matéria. Já o aluno acomodado, que não se empenha para aprender, não deve passar mesmo de ano, opina a doutora em psicologia pela USP Maria Helena Bresser. “Educar não é só ensinar conteúdo escolar. É fazer a criança aprender a viver no mundo real”, diz ela, diretora do Colégio Móbile, em São Paulo. Maria Helena completa: “Se o aluno não trabalhou o ano todo para atingir o objetivo, ele deve arcar com as conseqüências disso.”

O problema é que, no Brasil, o “passar de ano” é superdimensionado pelos pais. Mudar de série, porém, não é sinônimo de aprendizagem. “Há pais que não dormem à noite com a possibilidade da reprovação”, conta a diretora pedagógica Paula Cury, da Escola Santo Inácio. “Alguns ficam fora de si. É como se eu dissesse que o filho deles está com câncer.”

O garoto Romeu Habib Gahttas Filho, de 11 anos, que cursa a 5ª série do ensino fundamental, caminhava para uma reprovação até o terceiro bimestre deste ano. Foi quando os pais dele, junto com o colégio particular, patrocinaram uma nova agenda de educação para ensinar o garoto a estudar. O primeiro passo foi dado pela mãe, a artista plástica Maura Gahttas, que pediu uma reunião com os professores. “Nessa época do ano, os professores já aplicaram três provas, no mínimo, para as crianças e são os mais indicados para analisar as particularidades da personalidade do garoto e estabelecer um plano de estudo”, afirma o coordenador pedagógico Onofre Rosa, do Colégio Bandeirantes, de São Paulo.

Depois da conversa na escola, Maura e o marido, o comerciante Romeu, resolveram estabelecer uma rotina dentro de casa, dialogada com o filho. Romeu passou a jogar videogame apenas nos finais de semana. Computador, idem, com a supervisão dos pais. Tevê, ele só podia ver depois de concluir as tarefas da escola. “Chego em casa à noite e o Romeu está no quarto estudando. Nunca aconteceu isso, ele só estudava às pressas”, conta o pai do garoto.

Nessa força-tarefa, a família abriu mão de viagens em dois feriados para ficar supervisionando os estudos do filho em casa. Romeu respondeu ao esforço com notas melhores e amadurecimento. Nesse segundo semestre, o colégio, além de elogiá-lo em sala de aula e melhorar sua auto-estima, não registrou nenhuma ocorrência (falta de material, dever de casa não feito, comportamento inadequado) com o garoto, ao contrário das 17 do primeiro semestre. Romeu chegará nas provas finais precisando recuperar notas em português e fará quatro aulas particulares. Não quer correr o risco de deixar de coroar o ano em que ele aprendeu que nunca é tarde para aprender.