i86734.jpg

 

Depois do acidente com o reator de Chernobyl, em 1986, a discussão sobre a viabilidade das usinas nucleares parecia sepultada. Com saldo de mais de nove mil mortos e prejuízos superiores a US$ 200 bilhões, o acidente maculou a eficiência dessa tecnologia, fadada a ser eternamente associada à tragédia na extinta União Soviética. Mas hoje, 22 anos depois, a situação começa a mudar. Em tempos de crise de energia e paz entre as potências atômicas, o mundo se mostra inclinado a dar mais uma chance à energia nuclear.

Sensível a esse movimento, a empresa americana Hyperion Power Generation criou um novo produto – o reator nuclear particular. De acordo com o cronograma da empresa, em quatro anos, qualquer um com US$ 25 milhões (R$ 55,2 milhões) poderá ter um desses aparelhos enterrado no quintal de casa. Basta fazer a encomenda e garantir lugar na fila de interessados, que já tem 280 nomes.

Um Hyperion Power Module (HPM), como é chamado o reator, produz energia elétrica para atender dez mil casas por até uma década. Com peso de dez toneladas, o aparelho de 1,5 m por 2 m não requer equipe para ser operado e funciona gerando calor na forma de vapor d’água. O dispositivo é selado e não tem partes móveis, o que reduz as chances de acidente. Quando o combustível se esgota, é removido e recarregado na fábrica. “O volume de lixo atômico produzido depois de uma década é pouco maior que o de uma bola de tênis”, garante Deborah Blackwell, vice-presidente da Hyperion. A ideia é vender o produto para condomínios residenciais, hotéis, minas e bases militares.

 

i86735.jpg

 

Mas o uso da tecnologia nuclear ainda apresenta desafios e suscita muitas dúvidas. Um reator atômico funciona com insumos radioativos. E por menos “enriquecidos” que eles sejam, quando expostos, podem causar grandes estragos. “Esse material pode até ser inútil para fazer uma bomba nuclear, mas espalha lixo atômico”, explica o físico José Goldemberg, da Universidade de São Paulo (USP). Outro argumento contra o uso das baterias nucleares é de que elas não serão competentes o suficiente para justificar o investimento. “Quanto maior o reator, mais eficiente ele é e mais barata fica a energia. E esses são pequenos demais”, afirma Aquilino Martinez, professor de engenharia nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para os especialistas, a única função desses aparelhos seria funcionar como geradores de emergência em lugares sem acesso à rede elétrica. “Não acho a ideia boa”, crava Martinez. Pelo menos 280 interessados, com seus US$ 7 bilhões de investimento, discordam.