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EX-TESOUREIRO Afastado do partido, Delúbio trabalha por Berzoini em Goiás e tem planos eleitorais

Depois de ser afastado da Casa Civil e de ter o mandato de deputado federal cassado sob a acusação de liderar a quadrilha do mensalão, o ex-ministro José Dirceu está perto de ver secar a sua última fonte de poder: a capacidade de influenciar e definir os rumos do Partido dos Trabalhadores. Em dezembro, através de eleições diretas, petistas espalhados por 5.118 cidades brasileiras irão às urnas para escolher as novas lideranças do partido, inclusive o novo presidente nacional da legenda que abriga o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há 15 dias, foi feita uma pesquisa com os petistas para saber quais os caminhos que eles pretendem impor ao partido. ISTOÉ teve acesso ao resultado dessa enquete que entrevistou 2.310 dos 917.297 filiados aptos a votar e apresenta uma margem de erro de 3%. O resultado é um duro recado àqueles que, como Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, vêm controlando a legenda desde a sua fundação, em 1980.

LALO DE ALMEIDA/FOLHA IMAGEM

EM QUEDA O ex-ministro José Dirceu deverá ser o maior derrotado nas eleições do PT

O deputado Ricardo Berzoini (SP), que disputa a reeleição interna e representa os flagrados no mensalão, aparece em terceiro lugar na preferência dos petistas, com 25%. Na dianteira está o também deputado José Eduardo Cardozo (SP), com 31%, e logo em seguida a turma da ministra Marta Suplicy, com 27%. O secretário nacional de organização do partido, Romênio Pereira, que há 20 anos analisa as pesquisas do partido, é taxativo ao examinar os números: “Com certeza teremos um segundo turno”, avisa. A notícia, no entanto, não serve de alento à turma de Dirceu. No entender de Pereira, tanto Cardozo como Marta e as outras seis candidaturas de menor expressão têm em comum o discurso de retomada da ética, o que os colocam em pólo oposto ao de Berzoini. “É certo que nesse segundo turno todos irão se unir, um fato inédito na história do partido”, avalia o secretário nacional de organização. Um outro dado que supreende os dirigentes do partido é o fato de que apenas 46% daqueles que poderão votar estão dipostos a colocar o voto na urna. “Esse é o momento de resgatar os militantes afastados nos últimos anos por causa da crise infernal que passamos”, diz Cardozo.

À primeira vista, os números podem indicar que também o presidente Lula estaria em baixa junto aos petistas, uma vez que Berzoini tem o apoio explícito do Planalto. Pereira, no entanto, não endossa essa avaliação. O que está acontecendo, na verdade, é uma mudança de interlocução no partido, que não compromete o prestígio de Lula. O presidente, fiel a seu estilo, não nega apoio a Berzoini, mas tem dito a vários interlocutores que a alternância do comando do PT seria saudável para o partido. Cardozo, a nova estrela ascendente do PT, tem padrinhos de peso levando o seu nome para todos os cantos do País. O principal deles é o ministro da Justiça, Tarso Genro, que abriu mão de sua proposta de “refundar o partido” e abraçou a causa do deputado paulista levando consigo antigos rivais como Olívio Dutra e Raul Pont. Os governadores Jaques Wagner e Marcelo Deda, da Bahia e de Sergipe, que são historicamente ligados a Berzoini, Lula e Zé Dirceu, também têm abraçado a candidatura de Cardozo. Entre os dirigentes petistas, todos afirmam que eles não fariam isso sem o consentimento do presidente.

ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ

NOVA ESTRELA José Eduardo Cardozo é o novo queridinho dos militantes petistas

Berzoini ainda não se dá por vencido. No início do mês esteve pessoalmente com o presidente Lula e lhe solicitou um apoio mais enfático. Até agora não obteve isso. “Para reverter esse quadro só mesmo se Lula vestir publicamente a camisa de Berzoini e nada indica que o presidente fará isso”, afirmou à ISTOÉ um ministro que freqüentemente dialoga com o presidente.

Para Lula, a derrota da turma de Dirceu representa um novo desafio para 2008. Afinal, foi Dirceu o maior responsável pela aprovação da ampla aliança partidária com setores conservadores como o antigo PL e o PTB que levou Lula ao Planalto e que mais tarde envolveu até o PMDB. Para isso, o ex-ministro jogou pesado no campo interno, inclusive fazendo intervenções em diretórios contrários a essa postura. Com esse grupo afastado do comando petista, as composições políticas com os partidos da base aliada tendem a ser mais complicadas já nas eleições municipais do ano que vem. “Não iremos tratar mal os partidos de centro da base aliada, mas queremos que as siglas da esquerda sejam mais bem tratadas”, anuncia Cardozo. O secretário nacional de organização da legenda vai mais fundo. “Está em jogo o primeiro tempo de 2010.” Na última semana, ISTOÉ tentou falar com o ex-ministro José Dirceu para que ele fizesse a sua análise sobre a pesquisa do PT, mas ele não retornou as ligações.