ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ

RESISTÊNCIA A saída, três meses depois

Após resistir diariamente e por três meses às críticas do ministro da Defesa, Nelson Jobim, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, finalmente deixou o cargo na quarta-feira 31 – há um mês a sua substituta, Solange Vieira, estava escolhida. Zuanazzi saiu e disparou pesado contra o ministro. Numa entrevista coletiva insinuou que Jobim estaria mancomunado com os que “não desejam ver pobre voando de avião”, referindo-se à crítica que ele fizera à decisão das companhias aéreas de reduzirem o espaço entre as poltronas de suas aeronaves. Em entrevista à ISTOÉ, minutos antes de pisar o avião (confirmado no horário) que o tiraria de Brasília, Zuanazzi voltou a criticar Jobim: “Não quero ficar com uma pessoa cujos métodos, cujos pensamentos não combinam com o meu. Jobim não disse a que veio até agora e nem sequer conseguiu reunir o setor.”

Por que o sr. resolveu deixar o cargo, se resistiu por tanto tempo?
Porque eu estava aguardando a chegada dos futuros diretores. Não podia largar o cargo irresponsavelmente e deixar o País sem uma autoridade na aviação.

Faz tempo que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, não queria que o sr. ficasse?
Quem não quis ficar fui eu. Não pedi a ele para ficar, em nenhum momento. Nem quero estar com uma pessoa cujos métodos e pensamento não combinam com os meus.

Quais métodos?
Métodos de fazer as coisas sem o devido debate, sem o aprofundamento técnico necessário. Sem o diálogo, que é importante. E também a forma como ele está pensando a aviação não é a minha forma de pensar.

Em que ele está errado?
Acho que a aviação brasileira vive um momento de grande crescimento. E esse crescimento sempre gera alguns transtornos. Acho que tinham de culpar alguém, culparam os mais novos no setor, criaram um bode expiatório.

A culpa do apagão aéreo, então, é de quem?
A culpa não é de ninguém. Nós temos problemas estruturais, falta de investimentos, especialmente nos terminais de São Paulo. E isso tem mais de 20 anos. Também falta investimento em pessoal capacitado. Nós temos ainda problemas conjunturais, como foi o caso dos controladores de vôo. Enquanto tudo isso ocorria simultaneamente, se culpava a Anac, quando ela não era responsável pelos controladores e estava cumprindo o seu papel de regular o mercado.

Hoje, em sua avaliação, há uma tentativa de esvaziar a agência?
Não sei dizer. Essa é uma resposta que não é minha.

Falou-se muito de uma suposta relação promíscua entre a Anac e as empresas aéreas, o que teria agravado a crise.
Não tem conluio nenhum com as empresas aéreas. Nós multamos muito mais que o Departamento de Aviação Civil (DAC), fizemos ações de fiscalização mais rigorosas que o órgão que nós recebemos. Se o conluio existe, então levem a culpa para trás também. Digam: esse conluio é histórico. Mas não venham culpar a agência que está fiscalizando mais e está multando mais.

O ministro Nelson Jobim chegou como uma espécie de salvador da pátria para colocar um ponto final na crise. Ele está tendo sucesso?
Ele até agora não mostrou ainda o que quer. Nem sequer conseguiu reunir o setor. Eu só espero que ele acerte. É o meu desejo. Até para melhorar a situação da aviação brasileira.