Contornada pelo rio Preguiças e pelo mar, a região de Caburé, em Lençóis Maranhenses, é um dos pontos favoritos de turistas brasileiros e de outros países. Trata-se de uma bela praia em que vivem poucos pescadores em um vilarejo de casinhas com telhado de palha e sem luz elétrica. Os visitantes chegam à região após um paradisíaco passeio de barco, dão um mergulho no mar e tiram areia das águas do rio. É um trecho do Brasil bonito e em paz. Agora vem a má notícia divulgada na semana passada por uma equipe de pesquisadores do departamento de oceanografia da Universidade Federal do Maranhão: Caburé corre o risco de desaparecer submersa.

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6 anos é o tempo estimado para que o rio e o mar cubram os lençóis maranhenses

Valendo-se da moderna tecnologia de GPS, Marcio Vaz Santos, Ph.D. em ciências ambientais pela Universidade de Virgínia, nos EUA, e professor da UFMA, estuda essa região desde 1999. Ele percebeu uma enorme diferença entre as suas fotos aéreas e o mapa costeiro elaborado pelo Exército brasileiro. A partir de então, passou a analisar o local a cada dois ou três anos e percebeu a evolução das águas: a faixa terrestre perde sedimentos e o rio Preguiças avança cerca de um metro sobre a areia. O mar avança quatro metros. O guia turístico Aluísio Pedrosa, que trabalha há 16 anos na região, não precisou de equipamentos de alta tecnologia para perceber o fenômeno. “O mar está se aproximando das pousadas. Antes a distância era de 400 metros, hoje é de 90”, diz ele.

Caburé está localizada em uma península, na região de restinga, e é fortemente afetada pela instabilidade do rio Preguiças. O guia Pedrosa conta que as águas são tão bravas que tornam perigosa a sua navegação. “É uma área naturalmente instável, onde há fortes correntes de maré, ventos e ondas. Tudo isso faz com que a foz seja mutante”, diz Santos. Aos poucos a população começou a sentir o impacto da natureza, uma vez que anualmente a região é atingida por fortes inundações. Estima-se que em seis anos ela poderá estar seriamente comprometida, embora haja, ainda que mínima, uma possibilidade de esse processo ser revertido. Turistas e moradores, no entanto, têm de se preparar para o pior. “Daqui a pouco vai ser inviável até ter esgoto. Mesmo que casas demorem para desabar, eu diria que haverá um comprometimento da estrutura logística”, diz Santos. A construção da Barragem do rio Bacanga, em São Luís, fez com que esse processo natural de mudança fosse amplificado. O rio está sendo assoreado e a praia, invadida pelas águas.