Sem conversa: Francisco na garagem do
sobrado onde mora.“O dinheiro é meu”

Francisco Nunes Pereira, 44 anos, mora em cima de uma garagem na periferia de Tatuí, no interior de São Paulo. Franzino e reservado, é conhecido como Mineirinho. Casado e pai de dois filhos, pouco circula pelas ruas da cidade. Quando sai de casa, está sempre atrás do volante de um modesto Gol vermelho com mais de sete anos de uso, carrega uma pequena pasta preta e surradas roupas sociais. Normalmente, é visto levando a filha caçula para a escola. Emprego, ele não tem. Foi um pequeno empresário, mas na cidade o que informam é que ele faliu há cerca de dez anos. Muitos de seus ex-funcionários estão até hoje sem receber os direitos trabalhistas. Aparentemente, trata-se de um cidadão como milhares de brasileiros. Na verdade, porém, a história de Mineirinho esconde um mistério que vem desafiando as autoridades financeiras e tributárias do País. À Receita Federal, ele declara ser dono de R$ 2.358.845.398,72, em dinheiro vivo. Isso mesmo: mais de dois bilhões de reais, ou US$ 1,1 bilhão. No ranking das maiores fortunas brasileiras, o homem desempregado de Tatuí estaria em 16º lugar, ombro a ombro com Constantino Júnior, dono da Gol Linhas Aéreas.

Por conta da cifra monumental, Mineirinho é alvo de investigações simultâneas na Polícia Federal, no Ministério Público e na Receita. Ele não costuma freqüentar restaurantes nem mesmo o clube do pequeno município paulista. E, para fazer jus ao apelido, pouco fala. “O dinheiro é meu. Não tenho mais nada a declarar”, disse rapidamente quando abordado pela equipe de ISTOÉ. Não há registros que ele tenha alguma vez tirado a sorte grande nas loterias e, oficialmente, os documentos já levantados pelas investigações mostram Mineirinho como sócio ou representante legal de um pool de sete empresas, todas de fachada – dessas que existem apenas nos registros cartoriais. Há até uma seita evangélica, a Igreja de Culto ao Senhor Supremo, que não funciona. Os principais “negócios” de Francisco têm como endereço o acanhado sobrado onde ele mora. É lá, por exemplo, que deveriam funcionar a tal igreja, registrada no Fisco em abril do ano 2000, uma construtora e uma agropecuária. Em nome de Francisco também há uma imobiliária, uma fábrica de cerâmica e uma central de reciclagem de lixo. E ainda uma mineradora, que seria sediada em Brasília.

Os responsáveis pela investigação sobre a suposta fortuna de Mineirinho trabalham com algumas hipóteses. Uma delas aponta para a possibilidade de Mineirinho estar apenas emprestando o nome para o verdadeiro dono do dinheiro, que provavelmente teria origem em caixa 2. Em outra, os investigadores seguem a suspeita de que os R$ 2 bilhões possam ser produto de sobras bancárias. Centavos remanescentes de contas extintas, somados, teriam virado a fortuna e, por alguma tramóia financeira, ido parar na conta corrente dele. Os papéis com a descrição detalhada das contas de Mineirinho chegaram à PF e ao Ministério Público Federal no final do ano passado. Na declaração de renda de 2005, ele informou ser o dono de duas aplicações em CDB no Banco do Brasil. Uma delas de R$ 1.378.599.526,85. A outra, de R$ 899.322.699,36.

Calote: desde 1997, Nivaldo tenta receber
R$ 163 do homem que
diz ter R$ 2 bilhões

Na vida real Mineirinho é um sujeito muito aquém da realidade virtual demonstrada nos documentos. Ele, na verdade, costuma emitir cheques sem fundos, tem diversos títulos protestados e empurra com a barriga a negociação de diversas dívidas. Nivaldo Machado, 48 anos, desempregado, por exemplo, guarda até hoje um cheque de R$ 163, sem fundos, que lhe foi repassado pelo bilionário em 1997. “Até hoje não recebi nada”, lamenta.