MARCEL THOMAS/FILM MAGIC/GETTYLM OTERO/IMAGE PLUS/AP 

IMPULSO Michelle Obama é ótima oradora, mas às vezes se excedeTRADIÇÃO Cindy McCain não costuma manifestar suas opiniões em público

 

 

As duas são bonitas, classudas e poderosas. Na mais concorrida campanha eleitoral do mundo, elas não vacilam no apoio incondicional ao marido. E querem reinar absolutas na Casa Branca. Além desses pontos em comum, ambas têm filhas negras, já que Cindy McCain adotou uma garota de Bangladesh em 1991, depois que um ciclone arrasou o país. Terminam aí as semelhanças entre Cindy e Michelle Obama. No foco das atenções, as duas candidatas a primeiradama dos Estados Unidos vêm se esmerando para corresponder ao papel glamourizado nos anos 1960 por Jacqueline Kennedy. Apresentam, no entanto, origem, trajetória e estilos tão distintos quanto a própria aparência.

Aos 54 anos, loira de olhos azuis, Cindy é a tradução perfeita do chamado "dinheiro antigo". Herdeira da Hensley & Co, uma das maiores distribuidoras nos Estados Unidos da cervejaria Anheuser-Busch, só no ano passado ela amealhou US$ 6 milhões em rendimentos. Tem casas na Califórnia e no Arizona, próximo à cidade de Phoenix, onde nasceu. Filha única, recebeu educação primorosa e seguiu a trajetória esperada para uma menina americana de sua condição social. Aos 14 anos, foi eleita "miss rodeio". Mais tarde, se consagrou como líder de torcida na Universidade do Sul da Califórnia, de onde saiu mestre em educação.

Cindy conheceu John McCain em 1979, durante uma recepção militar no Havaí, terra natal de Barack Obama. Eles se casaram no ano seguinte, um mês depois que McCain se separou formalmente da primeira mulher. Dezoito anos mais nova que o marido, Cindy parece talhada para o papel de primeira-dama tradicional. Procura manter-se distante das esferas de decisão da campanha e apura o próprio brilho em missões beneficentes em todo o mundo. "Eu não costumo me envolver nas questões do dia-a-dia", avisou logo no começo da atual disputa. "Não sinto que este seja meu trabalho."

Avessa ao debate político, Cindy raramente manifesta suas opiniões, mas vem desempenhando com elegância o que considera seu trabalho. Em fevereiro passado, manteve-se impassível ao lado de McCain, enquanto ele negava ter se envolvido amorosamente com uma lobista de Washington, como publicara The New York Times. Oito anos atrás, quando McCain perdeu para George W. Bush a indicação do Partido Republicano, a reação de Cindy havia sido desmanchar-se em lágrimas. Estava exaurida, ao final de uma disputa marcada por uma onda de boatos segundo os quais sua filha adotiva, Bridge, teria nascido de uma relação extraconjugal de McCain com uma mulher negra. "Eu tive de explicar a Bridge quanto uma campanha pode ser asquerosa", comentou à época. Mãe de outros três filhos, durante aquela campanha Cindy ainda viu explorado publicamente o período – três anos – que passou dependente de medicamentos controlados.

Dez anos mais nova que Cindy, Michelle pode se orgulhar de ter construído uma carreira de sucesso a partir de uma origem pouco promissora. Ela própria já se definiu como o resultado do "investimento americano no ensino público de qualidade". Filha de um funcionário do departamento de águas de Chicago, ela passou toda a infância e adolescência na parte sul e degradada da cidade. Morava com os pais e o irmão, Craig, no segundo andar de um bangalô cuja vizinhança era, em sua maioria, negra.

Formada em sociologia pela Universidade de Princeton e em direito por Harvard, ela trabalhava num prestigiado escritório de advocacia, o Sidley Austin, quando seu pai morreu de esclerose múltipla. "Olhei então para minha vizinhança e tive a certeza de que deveria usar minhas habilidades a favor do lugar que me tornou o que sou", relembrou Michelle recentemente ao The New York Times. "Eu queria uma carreira motivada pela paixão e não apenas pelo dinheiro."

DIVULGAÇÃO

Alcançou os dois objetivos. Primeira negra com condições reais de se tornar primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle já fez a diferença. Mesmo porque, na campanha de Barack, ela é quem simboliza a presença e os anseios dos negros americanos. Financeiramente, Michelle também é um sucesso. Para se dedicar à campanha do marido, afastouse do cargo de executiva de um hospital de Chicago, onde recebia US$ 200 mil por ano. Continua a morar nas proximidades da casa de sua infância. Só que agora ocupa, com o marido e as duas filhas do casal, uma propriedade de três andares, que vale US$ 1,7 milhões.

Michelle conheceu Obama em 1989, quando foi encarregada de orientar o advogado que entrara para o escritório de advocacia onde trabalhava. Demorou, mas não resistiu aos encantos do colega, com quem se casou três anos depois. "Ela é mais esperta, ela é mais consistente e, com certeza, mais atraente do que eu", costuma repetir Obama. Com 1m80 de altura e excelente oratória, Michelle também é uma mulher de presença marcante, que interfere nos rumos da campanha do marido. Sem papas na língua, chegou a comentar que ele roncava, tinha mau hálito e deixava meias sujas espalhadas pela casa. Se ajudou a "humanizar" a imagem de Obama, a inconfidência sinalizou para os artífices da campanha democrata a necessidade de frear a impulsiva Michelle.

A operação de bastidores para conter o excesso de espontaneidade de Michelle estava começando quando comentários seus provocaram reação até em Cindy, famosa pela distância que mantém de polêmicas. Satisfeita com o crescente apoio dos eleitores ao seu marido, ela afirmou que "pela primeira vez em sua vida adulta estava realmente orgulhosa" de seu país. "Não apenas porque Barack está indo bem, mas pelas pessoas estarem sedentas por mudança", completou. Foi o bastante para ser acusada de impatriota. "Eu tenho, e sempre vou ter, orgulho do meu país", retrucou Cindy, que, sem fazer alarde, apóia com doações os esforços americanos de guerra. Dois estilos tão distintos quanto as propostas de seus maridos para a Casa Branca.