Na terça-feira 26, um grupo de profissionais de saúde se reunirá em São Paulo para discutir os males do abuso do álcool. O simpósio Uso do Álcool, Saúde e Sociedade é coordenado pelo Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool (Cisa) e terá a presença de especialistas de renome internacional. Um deles, o economista americano Rick Harwood, está na linha de ponta dos estudos sobre custos do alcoolismo para a sociedade. Vice-presidente da Lewin Group, empresa líder em consultoria de serviços de saúde nos Estados Unidos, e membro da Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas, falou a ISTOÉ por telefone, de seu escritório em Nova York.

ISTOÉ – De que maneira o consumo excessivo de álcool afeta a sociedade?
Rick Harwood –
Estudos feitos nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Austrália e no Canadá mostram que o abuso do álcool custa caro para o país. O maior gasto é, em disparada, com a perda de trabalho e de produtividade, pois quanto mais uma pessoa bebe maiores as chances de perder o emprego e de ter a carreira prejudicada.

ISTOÉ – Em números, quanto representa essa queda de produtividade?
Harwood –
Dos US$ 184 bilhões que se gastam anualmente com o abuso de álcool nos Estados Unidos, US$ 26,3 bilhões são relativos à saúde, ou seja, tudo o que se gasta em tratamentos e remédios para enfermidades relacionadas ao consumo exagerado de álcool. Já com a baixa produtividade gastam-se, anualmente, incluindo demissões, pelo menos US$ 134 bilhões.

ISTOÉ – No Brasil, estima-se que o consumo excessivo de álcool seja o terceiro maior motivo de faltas ao trabalho. Como é nos Estados Unidos?
Harwood –
Não. Lá, o álcool é a primeira causa de ausência no trabalho e o maior responsável por provocar acidentes nas empresas.

ISTOÉ – E quanto tudo o que se gasta com o abuso da bebida significa para a economia americana?
Harwood –
Os gastos decorrentes do uso desmedido do álcool atingem 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, que é de US$ 8,2 trilhões. E,
entre vítimas de acidentes de carro e complicações hepáticas, pelo menos
100 mil pessoas morrem, todo ano, por causa da bebida – quase 5 % de todas
as mortes no país.

ISTOÉ – Quanto seria necessário para mudar esse quadro?
Harwood –
Atualmente gastamos US$ 2 bilhões com prevenções, o que é muito pouco se comparado com os US$ 185 bilhões que o governo destina a prevenções de doenças graves. E menos ainda se comparado com os US$ 10 bilhões que são gastos com publicidade de bebidas.

ISTOÉ – Um estudo publicado há três anos no Brasil mostrou que, ao contrário do que se pensava, a maconha não é a porta de entrada para outras drogas, e sim o álcool. Nos EUA é assim também?
Harwood –
Nos Estados Unidos o álcool também aparece antes das drogas ilícitas, mas vem depois do cigarro. Lá o cigarro é a primeira droga que um adolescente
costuma experimentar.

ISTOÉ – O que pode ser feito para mudar esse quadro de alcoolismo no mundo?
Harwood –
Encarar o problema de frente é o primeiro passo. De 5% a 10% de todos os funcionários de uma empresa têm problemas com a bebida. Isso é um dado relevante tanto para o dono desta empresa quanto para a sociedade.