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IMPACTO Da cascata da ponte do Brooklyn cairão dez mil litros de água por segundo

Pintores e arquitetos já definiram os altos edifícios de vidro de Nova York como "cascatas da altura do céu". O aclamado artista dinamarquês Olafur Eliasson, criador de instalações e intervenções urbanas que reinventam a natureza em escalas monumentais, valeu-se de tal definição para criar o seu projeto chamado The New York City waterfalls. A partir da quinta-feira 26, data de sua inauguração, a cidade contará com quatro grandes cataratas artificiais que mudarão a paisagem do East River, rio que banha a ilha de Manhattan. A cachoeira de maior impacto estará montada numa das bases da ponte do Brooklyn, um dos mais famosos cartões-postais de Nova York – com 27 metros de altura, essa cascata não é a mais imponente, mas, com certeza, é a que receberá maior número de visitantes, dada a sua localização. Já a mais alta (37 metros) será posicionada na extremidade da ilha Governors, situada diante da parte baixa de Manhattan. "Meu objetivo não é discutir natureza e cultura, mas, isso sim, proporcionar uma experiência da natureza em um cenário urbano", diz Eliasson. Esse projeto é a mais grandiosa obra de arte pública já feita em Nova York, começou a ser planejado há seis anos e seu custo gira em torno de US$ 15 milhões – bancados em sua totalidade pela iniciativa privada por meio da entidade Public Art Fund. Puro e simples mecenato? Não. Estima-se que, somente em turismo, as cataratas rendam à cidade de Nova York cerca de US$ 55 milhões.

O prefeito de Nova York, Michael R. Bloomberg, fez tudo para que a inauguração, prevista inicialmente para meados de julho, fosse antecipada – politicamente lhe interessa ter as cachoeiras funcionando antes e durante as comemorações do 4 de Julho, data da independência dos EUA. Conseguiu o que queria. Mais: Bloomberg quis que elas fossem iluminadas à noite e entrou em rota de colisão com Eliasson. Novamente conseguiu que sua vontade prevalecesse. Quanto à localização das instalações, nisso, pelo menos, não houve discordâncias – e nem em relação ao elevado número de pessoas que teriam de trabalhar para que o projeto ficasse pronto antes do prazo. Ao todo são 180 profissionais especializados, entre eles engenheiros, cientistas, ambientalistas e mergulhadores.


TORRE LÍQUIDA Com suas cachoeiras, Eliasson quer reinventar a natureza em meio à vida urbana

Apesar das dimensões espetaculares, a idéia das cataratas é simples:consiste apenas em levar a água do próprio rio, através de bombas de propulsão, ao topo de uma estrutura de andaimes de alumínio. O volume de água que vai cair, por exemplo, na base da ponte do Brooklyn corresponde a dez mil litros de água por segundo. Para suportar esse aguaceiro foi construído um alicerce especial com camadas de areia e pedra.

Aos 41 anos e mundialmente consagrado, Eliasson teria se dado tão bem na engenharia como se deu nas artes. Além de lidar com projetos de grande escala, ele também costuma criar a partir de complexos sistemas mecânicos e termoelétricos. Para tanto, em seu ateliê montado em Berlim em um antigo galpão ferroviário, Eliasson trabalha com 40 profissionais de diversas áreas – arquitetos, engenheiros, matemáticos, designers de luz. Ele se tornou um pop star das artes plásticas a partir de 2003, ano em que simulou a intensidade luminosa do sol na Tate Modern de Londres, utilizando 200 lâmpadas amarelas, um gigantesco espelho no teto e uma geringonça que produzia fumaça. Mais de dois milhões de pessoas visitaram essa instalação. Desde então, Eliasson já assinou projetos para a BMW e a Louis Vuitton, doando parte do que ganhou à instituição 121 Ethiopia (adotou duas crianças etíopes). "Eu me orgulho de ser um artista de massa e nos meus trabalhos critico o controle que o mercado exerce sobre a atividade artística", disse ele na abertura de sua retrospectiva, que já passou por São Francisco e ficará em cartaz no MoMa de Nova York até a semana de inauguração das tão esperadas cascatas.


SOL ARTIFICIAL
Realizada em 2003, na Tate Modern de Londres, a instalação The weather project simulou a intensidade da claridade solar por meio de luzes, espelho e fumaça