DIVULGAÇÃO

O cartunista carioca André Dahmer era um "menininho infernal". Com apenas dez anos já tinha sido reprovado duas vezes no colégio alemão em que estudava e gostava de correr, gritar e pôr fogo nas coisas. "E eu era bom nisso", diz ele. O garoto-monstrinho se via constantemente encaminhado para terapias. "Quando eu entrava numa salinha daquelas, olhava para o terapeuta e pensava: ‘você está perdido hoje, vovô!’", escreveu Dahmer na apresentação de seu recém-lançado livro de quadrinhos, Malvados (Desiderata, 112 págs., R$ 29,90). Aos 33 anos, ele continua irrequieto, mas é eternamente agradecido por ter encontrado nas tirinhas a chance de correr, quebrar e incendiar sem colocar em risco os outros ou a si mesmo. Ao contrário, Dahmer agora ganha dinheiro e cada vez mais prestígio com seus quadrinhos politicamente incorretos. Há dogmas? Há normas? Há maioria no comando? Seus personagens são contra. Nem Jesus Cristo escapa. Mas o seu forte é a crítica de costumes. Impiedoso, ironiza as relações amorosas, o medo nas cidades grandes, o emburrecimento generalizado e, claro, ele próprio. Numa de suas tirinhas, o médico dá o diagnóstico ao paciente: "É uma lesão dahmeriana." E explica: "Você perderá a capacidade de tirar conclusões." Daí deduz-se que, se ele ri de si, está credenciado a brincar com o humor. Como sacramentou mestre Jaguar: "Seu texto é seco como Martini. E o desenho, sem enfeites. É um cartunista que veio para ficar."


QUADRINHOS Depois do sucesso na internet,
as tirinhas politicamente incorretas viraram livro

Quadrinista que despontou na internet em 2001, Dahmer migrou para as páginas impressas carregado pelo sucesso de quem chegou a receber 100 mil visitantes virtuais e teve mais de dois milhões de páginas visualizadas por mês. Para ele, a fama atual de suas HQ é apenas o reconhecimento de que "quadrinho não é privilégio de criança".


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HUMOR ADULTO Para Dahmer, "quadrinho não é privilégio de criança"

Em seu estúdio razoavelmente desorganizado convivem os personagens malvados, conhecidos como "flores do mal" ou "cabeças de girassóis". Ele diz: "Na verdade, minha cabeça é que é um caos, não a casa." Dahmer admite que acorda desenhando e dorme desenhando, e faz isso por prazer. Não raro, respira fundo e bate no peito: "Que bom que eu não trabalho!" É assim, não trabalhando, que ele é hoje uma das melhores surpresas da nova geração de cartuns.


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