SHUTTERSTOCK

Os médicos não se cansam de imaginar estratégias que ajudem a emagrecer sem tanto sofrimento. Na semana passada, nos Estados Unidos, um grupo de pesquisadores da Virginia Commonwealth University, nos EUA, e do Hospital das Clínicas de Caracas, na Venezuela, avançou mais um pouco nessa direção. Eles anunciaram a descoberta de um caminho diferente para perder peso e também manter a conquista. Desta vez, a chave do sucesso seria apostar em um supercafé da manhã, com direito a generosas porções de proteínas (leite e derivados e carnes) e carboidratos (pães, cereais, frutas e doces) e, nas refeições seguintes, restringir bastante a participação desses nutrientes.

A autora da fórmula, a endocrinologista venezuelana Daniela Jakubowicz, afirma que o grande aporte de alimentos pela manhã pode ativar o metabolismo preguiçoso dos que estão acima do peso e fazê-lo queimar até 30% mais calorias. "A dieta do supercafé da manhã funciona e é melhor do que regimes com baixo teor de carboidratos. Isso porque ela controla o apetite e o desejo por doces e amidos e encoraja a comer mais frutas e fibras", disse a médica. Seu método – divulgado no 90o Encontro Anual das Sociedades de Endocrinologia, realizado em São Francisco, nos EUA – lembra aquela antiga recomendação passada de mãe para filha de que para manter a forma é necessário comer no café da manhã como um rei, almoçar como um príncipe e jantar como um mendigo. No Brasil, a proposta foi recebida com ressalvas. "Um bom café da manhã é importante porque, se o organismo recebe menos do que o necessário, se defende e reduz o gasto de calorias. Mas a refeição não precisa ser exagerada", pondera o endocrinologista Antônio Roberto Chacra, chefe do departamento de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo.

Outro método que se propõe a intervir nos mecanismos de geração e depósito de energia do corpo é a chamada dieta dissociada. Ela prega a separação de proteínas e dos carboidratos na mesma refeição. Significa que não se pode juntar o pão e o queijo no mesmo sanduíche ou o arroz e feijão com o bife. Cada família de nutrientes só pode ser consumida sem se misturar a outra e as refeições devem ser feitas a cada quatro horas. "No mesmo prato, carboidratos e proteínas animais elevam a produção de insulina. Isso aumenta a síntese e o acúmulo de gorduras", diz o endocrinologista João César Castro Soares, que lança nesta semana um livro explicando sua proposta. Embora dê resultados – o sextanista de medicina José Eduardo Garotti, 25 anos, seguiu essa dieta e emagreceu 42 quilos em dez semanas -, a explicação sobre o mecanismo de ação do regime não é consensual. "Não é verdade que essa separação diminui a formação de gorduras", diz Chacra. A proposta funcionaria por outros motivos. "Qualquer regra para selecionar alimentos ajuda a emagrecer", acredita o médico.

Na opinião da nutricionista Cynthia Antonaccio, de São Paulo, dietas como a do supercafé da manhã e a dissociada podem causar confusão e ganho de peso. "As pessoas tendem a entrar e sair desses esquemas com freqüência e engordam", diz. O endocrinologista Giuseppe Repetto, diretor do setor de obesidade mórbida e metabólica do Hospital São Lucas, em Porto Alegre, é mais radical. "É tudo bobagem. Já vi muitas dietas chamarem a atenção e depois desaparecerem. O único jeito de emagrecer é comer pouco, apenas para sobreviver, e fazer muita atividade física", sentencia.

Mas vale todo esforço atrás de opções criativas para mudar o placar contra a obesidade. No mesmo encontro de São Francisco foi apresentado um estudo mostrando que a adição aos pratos de cristais com sabor (de queijo cheddar, cebola ou molho com salsa, cebola e alho) e aromas (de cacau, hortelã, banana ou morango) ajudou os participantes a se sentirem mais rapidamente saciados durante a refeição. Portanto, a comer menos. O trabalho foi feito pelo neurologista Alan Hirsch, pesquisador de uma fundação que trata pacientes que perderam o olfato e o paladar. A pesquisa durou seis meses e avaliou 2.436 pessoas com sobrepeso ou obesas. De acordo com Hirsch, o grupo que usou os cristais com cheiro e aroma perdeu 15% do peso, contra 1% dos que não usaram o recurso. "Cheiros e sabores estimulam áreas do cérebro relacionadas à saciedade. Isso ajuda a entender por que o cheiro de uma pizza parece tão bom quando ela chega, mas depois de comer queremos nos livrar logo da embalagem e daquele aroma", explica Hirsch.

Vinho emagrece?
Os benefícios do resveratrol (substância presente na casca das uvas vermelhas, no suco e no vinho tinto) para a proteção da saúde do coração são famosos e comprovados. Porém mais uma virtude do composto está em estudo: ele parece ser útil para inibir o desenvolvimento das células que funcionam como reservatórios da gordura, os adipócitos. "O resveratrol tem efeito antiobesidade porque impede que as células envolvidas nesse processo cresçam", assegurou a endocrinologista pediátrica Pamela Fischer-Posovszky. Ela coordenou um estudo na Universidade de Ulm, na Alemanha, no qual demonstra esse efeito. Porém a descoberta precisa ser mais bem estudada. Uma das questões a serem esclarecidas é a relação custo-benefício entre o consumo de uma a duas taças por dia (com cerca de 107 calorias cada uma) e o efeito antiobesidade que a bebida pode vir a ter no organismo.


A bebida inibiria o crescimento
de células de gordura