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PARIS 160 mil franceses utilizam a bicicleta como meio de transporte nos 400 quilômetros de ciclovias

Há um ano, com o objetivo de melhorar o trânsito e diminuir os índices de poluição na capital francesa, a Prefeitura de Paris criou um sistema de aluguel de bicicletas. Foram colocadas 10,6 mil bikes à disposição da população em 750 bicicletários instalados em pontos estratégicos da cidade e com o valor do aluguel mais baixo do que o preço do bilhete de metrô. Com isso, os franceses passaram a deixar o carro em casa. Só encontraram vantagens: ficam longe dos engarrafamentos, mantêm constante atividade física, não poluem e gastam menos. Em um ano, houve uma redução de 20% no fluxo de automóveis pelas ruas centrais da cidade e hoje ela conta com mais de 400 quilômetros de ciclovias que atendem diariamente mais de 160 mil pessoas. A opção dos franceses pelo transporte sobre duas rodas reafirma uma tendência mundial. Nesse início de século XXI, pedalar virou uma causa política, ambientalista e efetiva alternativa aos caóticos congestionamentos.

Em Barcelona, na Espanha, estimase que 450 mil pessoas já aderiram às bicicletas para se locomover – há na cidade 450 bicicletários. O uso de bicicletas para além do lazer não é novo. Na China, boa parte da população vai e volta do trabalho pedalando. É certo, no entanto, que os chineses sofrem com a questão do roubo de suas bikes. Na América também o seu uso se faz presente em grandes cidades com problemas de congestionamentos constantes e quilométricos. O exemplo mais visível vem da Colômbia. Em Bogotá, um terço da população usa a bicicleta como veículo diário e economiza em média US$ 30 por mês. Na capital colombiana são vendidos 140 mil novos automóveis por ano, contra 1,2 milhão de bicicletas. Em Cuba, a crise econômica do início dos anos 90 levou a uma queda de 50% no uso de ônibus e pedalar se tornou a tábua de salvação. Atualmente, Havana conta com mais de um milhão de bicicletas e tem até serviço de bicitáxi. Em Nova York, nos EUA, foram construídos 180 quilômetros de ciclovias nos últimos dois anos. No Brasil, a bicicleta começa a virar, também, a solução mais racional, embora as suas condições de uso permaneçam precárias e boa parte das ciclovias prometidas pelos governos de diversos Estados e municípios ainda não tenha saído do papel.

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BARCELONA Seis mil veículos e 400 pontos de estacionamento para 145 mil usuários do sistema de aluguel de bikes
BOGOTÁ Um terço da população anda sobre duas rodas e economiza, em média, US$ 30 por mês

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope, em todo o País cerca de 370 mil pessoas utilizam a bicicleta diariamente. Segundo levantamento do Ministério das Cidades, o número de ciclovias quadruplicou nos últimos cinco anos. Em 2003, eram apenas 600 quilômetros e este ano são 2.750 quilômetros, em aproximadamente 280 cidades. "Até 2011, pretendemos chegar a dez mil quilômetros", promete Luiz Carlos Bueno de Lima, secretário nacional de Transporte e Mobilidade Urbana. Desde o início do programa nacional Bicicleta Brasil, que incentiva o uso desse veículo, o Ministério atendeu pedidos de criação de ciclovias em 101 municípios, a um custo de R$ 15 milhões. A proposta de se criar ciclovias e incentivar o uso de bicicletas para os brasileiros ganhou força nos últimos meses, depois que o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, se encantou com o sistema implantado em Paris.

Enquanto isso, no Brasil…
Apesar do interesse político, a implantação de ciclovias no País ainda é mais promessa de campanha do que realidade de gestão. O Rio concentra a maior malha cicloviária – são três milhões de bicicletas em circulação (o dobro do número de carros), mas apenas 150 quilômetros de vias especiais, a maioria delas localizada na orla. Recentemente, o governo estadual conseguiu no Banco Interamericano de Desenvolvimento um financiamento de US$ 600 mil para implantar o mesmo projeto de Paris. Em São Paulo, o caso é mais grave. A capital tem apenas 4,5 quilômetros de ciclovias. Há a promessa de que ainda em 2008 seja concluída a construção dos 12 quilômetros de ciclovia da Radial Leste, uma das maiores vias expressas da cidade. Ela será integrada ao metrô e haverá bicicletários para os usuários.

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Sérgio Cabral, em Paris, e a vereadora de São Paulo Soninha, usuária de bike