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Naruhito é recebido com honras militares em Brasília

Fosse seguir ao pé da letra a etiqueta do império que representa, o príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, em sua segunda passagem pelo Brasil, para as comemorações do centenário da imigração japonesa, ganharia uma inevitável pecha de antipático. Evitaria todo tipo de contato físico ou visual, não se deixaria fotografar sem estar devidamente preparado e exigiria como reverência uma curvatura de 90º de qualquer pessoa que a ele se dirigisse – exceção feita a autoridades de "grau superior".

Mas Naruhito tratou de quebrar o gelo e os rigorosos protocolos sem maiores cerimônias. Logo em seu primeiro dia de compromissos oficiais, na quarta-feira 18, teve as mãos calorosamente apertadas pelo presidente Lula – com quem chegou a bater cabeças ao abaixarem juntos para pegar o aparelho de tradução simultânea que havia caído no chão. Também foi tocado e fotografado à exaustão por parlamentares e convidados durante evento no Congresso Nacional. A expectativa era que houvesse maior pompa nos rituais. Para recepcionar Naruhito em um jantar oferecido pelo governador José Serra no sábado 21, a equipe do cerimonial do Palácio dos Bandeirantes teve até curso de etiqueta e cultura japonesa para evitar gafes. A chefe do cerimonial, Cláudia Matarazzo, passou pessoalmente as recomendações ao governador.

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CASUAL O presidente Lula e o príncipe no momento em que bateram cabeças.

"Existe o momento certo para a formalidade. O príncipe conhece os costumes ocidentais, já esteve no Brasil, sabe que os hábitos daqui são mais casuais. Quando viaja, ele respeita a cultura de cada país e usa do bom senso em suas relações", diz Carlos Kendi Fukuhara, consultor para o cerimonial da visita. Foi ele quem comandou a recepção a Naruhito em sua primeira visita ao País, em 1982, e ao imperador Akihito, em 1997. "Aquelas normas mais rígidas, como não tocar o príncipe em nenhuma circunstância, caíram em desuso há quase um século." Mas tudo tem limite: nosso característico tapinha nas costas, por exemplo, não deve ser usado como afago ao príncipe herdeiro.